quarta-feira, 31 de março de 2010
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
O meu filho nasceu
Meu menininho chegou, e ele é muito mais lindo do que todos os rostinhos que eu passei os últimos meses imaginando. Passei a primeira semana completamente anestesiada e apaixonada pela figurinha, transbordando emoção pelos olhos todos os santos dias.
E agora eu entendo a corujice piegas que afeta todos os recém-pais/mães. É impossível fugir dela... e pior, não consigo nem me envergonhar! rs... O bichinho vem com um encanto que prende e turva o nosso olhar. De repente aqueles movimentos todos de dentro da barriga viram olhares, chorinhos, boquinhas, bracinhos, pezinhos. Viram um mundo de diminutivos. E de felicidade, amor, plenitude.
Não dá para pensar em nada, é tudo sentimento. Não consigo, nem quero, dizer nada sobre tudo o que passou, só que foi lindo e foi feliz e foi tudo aquilo mesmo que eu imaginava que seria: a maior felicidade e o maior evento de toda a minha vida. E que o que mais me assustava antes dele nascer é o que hoje mais me fascina: essa nova pessoa finalmente chegou. E a nossa vida agora é construir com ela uma relação.
E agora eu entendo a corujice piegas que afeta todos os recém-pais/mães. É impossível fugir dela... e pior, não consigo nem me envergonhar! rs... O bichinho vem com um encanto que prende e turva o nosso olhar. De repente aqueles movimentos todos de dentro da barriga viram olhares, chorinhos, boquinhas, bracinhos, pezinhos. Viram um mundo de diminutivos. E de felicidade, amor, plenitude.
Não dá para pensar em nada, é tudo sentimento. Não consigo, nem quero, dizer nada sobre tudo o que passou, só que foi lindo e foi feliz e foi tudo aquilo mesmo que eu imaginava que seria: a maior felicidade e o maior evento de toda a minha vida. E que o que mais me assustava antes dele nascer é o que hoje mais me fascina: essa nova pessoa finalmente chegou. E a nossa vida agora é construir com ela uma relação.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
De barriga cheia
Há semanas tenho pensado em escrever. Mas os dias têm sido intensos e a minha energia, bem limitada. Só me lembro novamente à noite, ao deitar, quando sinto um pé que não é meu empurrando o colchão... rs...
É uma série de confissões.
A primeira, imagética, e de inspiração para o que vem. É que ando de barriga cheia.
A segunda, é de que estou imensamente feliz.
Os que me conhecem sabem que desde cedo caí no papo de que poderia eventualmente haver algo de errado com a minha fertilidade. Além dos ovários policísticos, eu nasci com dois úteros grudados (transformados em "um" através de uma cirurgia "corretiva") que insistiam em sangrar para fora das trompas e causar dores abdominais insuportáveis mensalmente e, potencialmente, uma futura infertilidade.
Fato é que estar em um dos principais pólos da medicina (intervencionista) brasileira me colocou, desde sempre, a possibilidade de um dia, caso desejasse ser mãe, ter que enfrentar a impossibilidade - ou ao menos uma série de dificuldades - para a resolução da questão via "biologia". Já havia antecipadamente me preparado para a idéia de, eventualmente, um dia ter um filho - ou uma filha - não biológica.
Minha confissão é a seguinte.
No fundo, nunca tive problemas com a questão da maternidade. Acho que a relação entre pais e filhos (mães e filhas incluídas na equação) passa, realmente, por outras vias que não só a biológica e, por isso, nesse departamento tudo estava ok para mim.
O que não estava ok era que o que eu desejava, não sei se "mais", mas "além" do que os anos de convivência, dedicação e atenção que a maternidade e a paternidade envolvem, eram as sensações físicas de fazer crescer dentro de si um ser humano. Era, talvez, de um ponto de vista "teórico", a "experiência" da gestação.
As sensações da presença de um outro ser dentro de si, dessa simbiose, desse deslocamento. E, sinceramente, com todas as desculpas às pessoas que não podem por quaisquer motivos viver essa experiência, hoje posso dizer que é algo absolutamente fascinante.
Desde as primeiras sensações de que perdemos parte do controle sobre nosso próprio corpo... no meu caso, inicialmente, muita fome (mas muita mesmo) e muuuuuito sono. Sem glamourizar, às vezes é chato e ruim... mas é certamente interessante.
Num segundo momento, eu tinha mais energia e disposição... e de repente comecei a sentir umas sensaçõezinhas leves na barriga. Formiguinhas andando, risquinhos sutis, movimentos ainda distantes, intuídos, procurados... mas que me emocionaram tanto, todas as vezes que eu sentia.
Não vou exagerar de que a gestação é uma mudança radical. Há momentos no dia em que a gente se esquece da barriga. Mas, quando lembramos, é tão bom, tão maravilhoso...
Essa fase final é indiscutivelmente a mais intensa. Não só a gente sente cada movimentozinho do bebê, como sente pé na costela, mão na bexiga, solucinhos... Ele reclama e empurra se eu deito mais "pra lá", responde às minhas conversas...
Sem glamourizar, novamente. Isso tudo é muito gostoso, só isso que eu queria confessar. Às vezes quando penso que vai passar, sinto saudades antecipadas. Isso tem me feito muito feliz, tem me feito sentir emoções agradáveis.
O que me lembra da terceira e final confissão: debulhei-me em lágrimas no show em homenagem ao Robertão... rs... (ai, será que vai passar essa fase manteiga derretida?)
E amei o vestido da Hebe, branco... todo de renascença... diva total.
Enfim...
"Se chorei ou se sorri"... rs...
É uma série de confissões.
A primeira, imagética, e de inspiração para o que vem. É que ando de barriga cheia.
A segunda, é de que estou imensamente feliz.
Os que me conhecem sabem que desde cedo caí no papo de que poderia eventualmente haver algo de errado com a minha fertilidade. Além dos ovários policísticos, eu nasci com dois úteros grudados (transformados em "um" através de uma cirurgia "corretiva") que insistiam em sangrar para fora das trompas e causar dores abdominais insuportáveis mensalmente e, potencialmente, uma futura infertilidade.
Fato é que estar em um dos principais pólos da medicina (intervencionista) brasileira me colocou, desde sempre, a possibilidade de um dia, caso desejasse ser mãe, ter que enfrentar a impossibilidade - ou ao menos uma série de dificuldades - para a resolução da questão via "biologia". Já havia antecipadamente me preparado para a idéia de, eventualmente, um dia ter um filho - ou uma filha - não biológica.
Minha confissão é a seguinte.
No fundo, nunca tive problemas com a questão da maternidade. Acho que a relação entre pais e filhos (mães e filhas incluídas na equação) passa, realmente, por outras vias que não só a biológica e, por isso, nesse departamento tudo estava ok para mim.
O que não estava ok era que o que eu desejava, não sei se "mais", mas "além" do que os anos de convivência, dedicação e atenção que a maternidade e a paternidade envolvem, eram as sensações físicas de fazer crescer dentro de si um ser humano. Era, talvez, de um ponto de vista "teórico", a "experiência" da gestação.
As sensações da presença de um outro ser dentro de si, dessa simbiose, desse deslocamento. E, sinceramente, com todas as desculpas às pessoas que não podem por quaisquer motivos viver essa experiência, hoje posso dizer que é algo absolutamente fascinante.
Desde as primeiras sensações de que perdemos parte do controle sobre nosso próprio corpo... no meu caso, inicialmente, muita fome (mas muita mesmo) e muuuuuito sono. Sem glamourizar, às vezes é chato e ruim... mas é certamente interessante.
Num segundo momento, eu tinha mais energia e disposição... e de repente comecei a sentir umas sensaçõezinhas leves na barriga. Formiguinhas andando, risquinhos sutis, movimentos ainda distantes, intuídos, procurados... mas que me emocionaram tanto, todas as vezes que eu sentia.
Não vou exagerar de que a gestação é uma mudança radical. Há momentos no dia em que a gente se esquece da barriga. Mas, quando lembramos, é tão bom, tão maravilhoso...
Essa fase final é indiscutivelmente a mais intensa. Não só a gente sente cada movimentozinho do bebê, como sente pé na costela, mão na bexiga, solucinhos... Ele reclama e empurra se eu deito mais "pra lá", responde às minhas conversas...
Sem glamourizar, novamente. Isso tudo é muito gostoso, só isso que eu queria confessar. Às vezes quando penso que vai passar, sinto saudades antecipadas. Isso tem me feito muito feliz, tem me feito sentir emoções agradáveis.
O que me lembra da terceira e final confissão: debulhei-me em lágrimas no show em homenagem ao Robertão... rs... (ai, será que vai passar essa fase manteiga derretida?)
E amei o vestido da Hebe, branco... todo de renascença... diva total.
Enfim...
"Se chorei ou se sorri"... rs...
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Singing in the rain
Dias de molho e me rendi a certas coisas, como rever filmes queridos.
Cantando na chuva, juntamente com a Noviça Rebelde, foi daqueles filmes que eu vi, revi, trivi, trocentas mil vezes durante a minha infância... nas férias chuvosas ou sem mãe-torista, sessões da tarde preguiçosas, com brigadeiro de colher ou morangos com leite condensado.
Gravamos com o vídeo-cassete uma das vezes em que o filme passou na sessão corujão. Minha irmã e eu decoramos até os comerciais dos intervalos. O interesse era, penso, perceber cada cena, cada fala, cada movimento, cada música... e, claro, deliciar-se com o final feliz.
E nesses dias, depois de muitos anos, revi-o, em inglês e sem intervalos. Meio ressabiada, desconfiada de que não teria o mesmo prazer da infância e de que acabaria adormecendo em cena qualquer. Mas clássico é clássico, e pela enésima vez, o filme me tocou novamente.
Tá certo que o estado gravídico tem me feito chorar com comercial de margarina com a TV no "mudo", mas enfim...
Já no começo me peguei fascinada porque o filme fala de um dos temas que mais tem me interessado. O fio condutor do filme é a biografia do protagonista, o ator hollywoodiano Don Lockwood. Numa première (e no então já existente "tapete vermelho") ele narra a história de vida de um ator famoso e talentoso, que teria passado pelos melhores e mais reconhecidos circuitos do ramo artístico. Na tela, vemos o que se passou de verdade, e nada tem a ver com o que ele conta. Ele criança circulava pelos lugares mais decadentes, sapateando em público a troco de moedas e se agachando para entrar sem pagar nos cinemas "B" da cidade.
Delicioso.
Me ajeito no sofá, desistindo do cochilo previsto, para acompanhar o desenrolar da história.
Don sai de mais uma estréia de sucesso para aquelas festas super "privês" de comemoração, quando encontra a mocinha do filme, aspirante a atriz "de verdade" que resiste, inexplicavelmente, ao seu charme. E o questionamento do seu talento, profissional e galanteador, o desconcerta profundamente. A estrela retoma seu curso e começa a filmar seu novo filme sobre a Revolução Francesa com seu estridente par romântico, Lina Lamont. Mas o momento coincide com o advento dos "filmes falados", e o dono da gravadora decide, no meio do processo de gravação, introduzir neste filme um novo ingrediente tecnológico: o som.
Claro, a pré-estréia é um fiasco e a voz sofrível da "mocinha" não é o único motivo. O único ganho de Don durante as gravações é o reencontro tão esperado com Kathy Selden, e o prometido, leve, dançante e apaixonante romance. Juntos, e com o engraçadíssimo melhor amigo de Don, Cosmo Brown, os três amarguram numa noite chuvosa o que seria a derrocada da carreira do mocinho, quando relembram algo de sua biografia que estava escondido até então e que poderia salvá-lo: ele pode cantar e dançar! Porque não fazer então do filme um musical?
É a felicidade com essa nova perspectiva que faz Gene Kelly cantar e dançar deliciosamente pelas ruas chuvosas de Los Angeles. Sorrir de braços abertos para as nuvens negras que mandam a chuva pesada, porque o sol está no seu coração e ele está pronto para amar.
Não vou nem falar mais nada... só que me deu vontade uma vontade louca de fazer sapateado pra poder esperar a tempestade certa e fazer o mesmo...
Cantando na chuva, juntamente com a Noviça Rebelde, foi daqueles filmes que eu vi, revi, trivi, trocentas mil vezes durante a minha infância... nas férias chuvosas ou sem mãe-torista, sessões da tarde preguiçosas, com brigadeiro de colher ou morangos com leite condensado.
Gravamos com o vídeo-cassete uma das vezes em que o filme passou na sessão corujão. Minha irmã e eu decoramos até os comerciais dos intervalos. O interesse era, penso, perceber cada cena, cada fala, cada movimento, cada música... e, claro, deliciar-se com o final feliz.
E nesses dias, depois de muitos anos, revi-o, em inglês e sem intervalos. Meio ressabiada, desconfiada de que não teria o mesmo prazer da infância e de que acabaria adormecendo em cena qualquer. Mas clássico é clássico, e pela enésima vez, o filme me tocou novamente.
Tá certo que o estado gravídico tem me feito chorar com comercial de margarina com a TV no "mudo", mas enfim...
Já no começo me peguei fascinada porque o filme fala de um dos temas que mais tem me interessado. O fio condutor do filme é a biografia do protagonista, o ator hollywoodiano Don Lockwood. Numa première (e no então já existente "tapete vermelho") ele narra a história de vida de um ator famoso e talentoso, que teria passado pelos melhores e mais reconhecidos circuitos do ramo artístico. Na tela, vemos o que se passou de verdade, e nada tem a ver com o que ele conta. Ele criança circulava pelos lugares mais decadentes, sapateando em público a troco de moedas e se agachando para entrar sem pagar nos cinemas "B" da cidade.
Delicioso.
Me ajeito no sofá, desistindo do cochilo previsto, para acompanhar o desenrolar da história.
Don sai de mais uma estréia de sucesso para aquelas festas super "privês" de comemoração, quando encontra a mocinha do filme, aspirante a atriz "de verdade" que resiste, inexplicavelmente, ao seu charme. E o questionamento do seu talento, profissional e galanteador, o desconcerta profundamente. A estrela retoma seu curso e começa a filmar seu novo filme sobre a Revolução Francesa com seu estridente par romântico, Lina Lamont. Mas o momento coincide com o advento dos "filmes falados", e o dono da gravadora decide, no meio do processo de gravação, introduzir neste filme um novo ingrediente tecnológico: o som.
Claro, a pré-estréia é um fiasco e a voz sofrível da "mocinha" não é o único motivo. O único ganho de Don durante as gravações é o reencontro tão esperado com Kathy Selden, e o prometido, leve, dançante e apaixonante romance. Juntos, e com o engraçadíssimo melhor amigo de Don, Cosmo Brown, os três amarguram numa noite chuvosa o que seria a derrocada da carreira do mocinho, quando relembram algo de sua biografia que estava escondido até então e que poderia salvá-lo: ele pode cantar e dançar! Porque não fazer então do filme um musical?
É a felicidade com essa nova perspectiva que faz Gene Kelly cantar e dançar deliciosamente pelas ruas chuvosas de Los Angeles. Sorrir de braços abertos para as nuvens negras que mandam a chuva pesada, porque o sol está no seu coração e ele está pronto para amar.
Não vou nem falar mais nada... só que me deu vontade uma vontade louca de fazer sapateado pra poder esperar a tempestade certa e fazer o mesmo...
segunda-feira, 16 de março de 2009
Chegadas e Partidas
O tempo corre mais do que eu consigo acompanhar.
Já estou na minha nova cidade há uma semana, e me preparando, novamente, para partir.
A despedida da terra de Maria Bonita tentei minimizar, pensar que inevitável, necessária, indolor.
E foi mesmo assim, parti confiante e tranquila.
Pouca tristeza, saudades pontuadas, muitas esperanças.
Cheguei na cidade maravilhosa de braços abertos, como o Cristo Redentor.
E sim, o Rio de Janeiro continua lindo.
Logo nos primeiros dias tive uma surpresa muito agradável, que me deu a certeza de que tomamos a decisão certa.
Apesar de às vezes o coração apertar em dúvidas. Afinal, toda mudança e toda escolha tem suas consequências.
Mas a maior certeza foi me sentir novamente presente, ativa, parte do mundo.
A sensação de sair do estado de suspensão e invisibilidade no qual eu sentia que estava.
De voltar a ser eu mesma. E pulsar, junto à cidade.
Ainda que de barrigão.
Eu voltei, finalmente, há uma semana, a existir. A me encontrar.
Estranho, em um lugar estranho, novo, desconhecido.
Mas estou aqui. E muito feliz.
Tem sido interessante viver tudo isso ao mesmo tempo em que meu filho cresce dentro de mim.
De certa forma compartilhamos tudo, cada sensação, todos os caminhos, cada decisão.
Eu adoro a sua presença, amo cada movimento dele que eu sinto.
E, para vocês queridos desesperados e super cautelosos digo que SIM, eu páro quando estamos precisando parar.
Reconheço, portanto, que não estou só. E minhas decisões são sempre coletivas.
De toda essa metamorfose gravídica o que mais me surpreende é o quanto isso mobiliza as pessoas que me cercam.
Seja pelo estado "preferencial", que tem implicações subentendidas no nosso entorno impessoal, seja nas relações e expectativas de pessoas queridas.
A barriga é um assunto imediato, alvo de sorrisos cúmplices, miradas (mal)disfarçadas, solidariedade - ainda que às vezes forçada...
Uma senhora obesa e mal humorada no metrô me cedeu o lugar dizendo "eu estou pior do que você, mas tudo bem, senta aí".
Fiquei a viagem toda remoendo o assento cedido, a sua indelicadeza. Por azar, a dita cuja foi comigo até o ponto do ônibus da integração em que desci.
E teve que se sujeitar a me deixar vê-la em pé, no ponto, fumando um cigarro atrás do outro.
Sem querer ser moralista e anti-tabagista... mas concluí que isso a desqualificava de certa forma a descarregar em mim sua raiva pela hierarquia de "prioridades" - que ela mesma estabeleceu, afinal, se estava tão mal, não precisava ter levantado, eu não pedi...
Tudo isso me fez (re)pensar esse estado novo no qual me encontro.
A resposta tardia que dei, mentalmente, para esta senhora foi: obrigada, eu realmente não estou mal, nem era para estar.
Estou grávida, e só. É um estado especial, sim, muito especial...
E se o mundo puder ser mais gentil com essa especificidade, agradecemos muito. Afinal de contas, quem não prefere sentar no metrô?
Já estou na minha nova cidade há uma semana, e me preparando, novamente, para partir.
A despedida da terra de Maria Bonita tentei minimizar, pensar que inevitável, necessária, indolor.
E foi mesmo assim, parti confiante e tranquila.
Pouca tristeza, saudades pontuadas, muitas esperanças.
Cheguei na cidade maravilhosa de braços abertos, como o Cristo Redentor.
E sim, o Rio de Janeiro continua lindo.
Logo nos primeiros dias tive uma surpresa muito agradável, que me deu a certeza de que tomamos a decisão certa.
Apesar de às vezes o coração apertar em dúvidas. Afinal, toda mudança e toda escolha tem suas consequências.
Mas a maior certeza foi me sentir novamente presente, ativa, parte do mundo.
A sensação de sair do estado de suspensão e invisibilidade no qual eu sentia que estava.
De voltar a ser eu mesma. E pulsar, junto à cidade.
Ainda que de barrigão.
Eu voltei, finalmente, há uma semana, a existir. A me encontrar.
Estranho, em um lugar estranho, novo, desconhecido.
Mas estou aqui. E muito feliz.
Tem sido interessante viver tudo isso ao mesmo tempo em que meu filho cresce dentro de mim.
De certa forma compartilhamos tudo, cada sensação, todos os caminhos, cada decisão.
Eu adoro a sua presença, amo cada movimento dele que eu sinto.
E, para vocês queridos desesperados e super cautelosos digo que SIM, eu páro quando estamos precisando parar.
Reconheço, portanto, que não estou só. E minhas decisões são sempre coletivas.
De toda essa metamorfose gravídica o que mais me surpreende é o quanto isso mobiliza as pessoas que me cercam.
Seja pelo estado "preferencial", que tem implicações subentendidas no nosso entorno impessoal, seja nas relações e expectativas de pessoas queridas.
A barriga é um assunto imediato, alvo de sorrisos cúmplices, miradas (mal)disfarçadas, solidariedade - ainda que às vezes forçada...
Uma senhora obesa e mal humorada no metrô me cedeu o lugar dizendo "eu estou pior do que você, mas tudo bem, senta aí".
Fiquei a viagem toda remoendo o assento cedido, a sua indelicadeza. Por azar, a dita cuja foi comigo até o ponto do ônibus da integração em que desci.
E teve que se sujeitar a me deixar vê-la em pé, no ponto, fumando um cigarro atrás do outro.
Sem querer ser moralista e anti-tabagista... mas concluí que isso a desqualificava de certa forma a descarregar em mim sua raiva pela hierarquia de "prioridades" - que ela mesma estabeleceu, afinal, se estava tão mal, não precisava ter levantado, eu não pedi...
Tudo isso me fez (re)pensar esse estado novo no qual me encontro.
A resposta tardia que dei, mentalmente, para esta senhora foi: obrigada, eu realmente não estou mal, nem era para estar.
Estou grávida, e só. É um estado especial, sim, muito especial...
E se o mundo puder ser mais gentil com essa especificidade, agradecemos muito. Afinal de contas, quem não prefere sentar no metrô?
terça-feira, 3 de março de 2009
Apenas os sonhos
Me perguntaram esses dias se eu havia me arrependido da minha escolha profissional. Afinal de contas, eu poderia ter sido engenheira (e hoje estaria construindo minha casa de praia), ou bióloga, como pensei querer ser quando entrei pela primeira vez na universidade. Mas respondi, como sempre faço, sem titubear, que não, de forma alguma. Não me arrependo.
Sem querer forçar aquela coerência biográfica do "nasci pra ser" antropóloga eu sou, sim, muito feliz com a minha escolha. O único problema com ela no momento, além do interminável trabalho de parto da tese, é o voto de pobreza que vem junto, a demora para poder "continuar a ser" antropóloga DD (depois do doutorado).
Acho que Bourdieu anda me assombrando (rs)... mas se até agora "tenho sido" antropóloga, "continuar a ser" depende do que vai acontecer nos próximos anos, comigo e com a minha carreira. Quais são minhas opções, os caminhos possíveis... Anda extensa, ainda, a lista de doutores desempregados e sei lá o que vou acabar fazendo, onde, em que "posição" vou me institucionalizar, se é que vou. Isso, me parece, é parte bem importante de "ser" qualquer coisa. Afinal, de contas, não sou Machado de Assis e a Antropologia não é Literatura.
Claro, minha formação fica comigo para sempre, nem que eu vá lavar pratos em Londres... o que às vezes não parece má idéia...
Pensei agora que a profissão talvez seja como um jardim que se cultiva diariamente, mas a imagem é poética demais para o dia-a-dia cada vez mais, ao que parece, emburrecido, apressado, burocrático e superficial. Ainda assim, a Antropologia me parece mais colorida do que muitas outras coisas. Por isso, de novo, não, não me arrependo. Enfim...
Todo esse blablablá pra dizer que ando pensando muito sobre o que a vida faz com as pessoas. Parte, talvez, por causa dessa fase de transição, as inseguranças e esperanças, os ex-sonhos que se desmancham de vez, os novos que se constituem... A possibilidade (finita e limitada, mas existente!) de se refazer planos... E com um rebento vindo por aí, tem batido aquele medo de ter que fazer escolhas apressadas e insatisfatórias... Aquele medo de acabar presa numa vida superficial, como em "Foi apenas um sonho" (lindo, com Winslet e Di Caprio... vcs viram?), e de me desesperar com isso... De certa forma, acho que a universidade alimentou em mim, assim como os sonhos dos artistas, a esperança de uma vida legal, plena, interessante, emocionante, aberta, frutífera... tantas coisas boas... mas será que o mundo está de acordo com isso?
Enfim, tudo isso (ai ai ai, os tortuosos caminhos da redação...) porque esta semana foi aniversário de 89 anos da minha vó.
E eu fiquei lembrando das coisas que ela me contava quando eu era criança... minha infância coincidiu com sua viuvez, e a leveza da relação cotidiana avó-neta permitiu que ela desabafasse coisas guardadas há anos, do seu casamento, da sua infância, de toda sua vida. Conheci minha vó a partir de muitas das suas insatisfações e arrependimentos. E, claro, ela é das figuras mais importantes na minha vida, eu a amo de paixão e tendo a ver muita injustiça, sim, no seu destino. Ela foi e ainda é - que fique claro - muito feliz em vários aspectos, mas o mundo lhe negou várias coisas, como nega a todos nós, infelizmente. Ainda que a uns mais do que a outros.
Minha vó tem a sensibilidade rara de sacar nuances, intenções, olhares, sentimentos. É perspicaz, de uma generosidade incrível, desprendida, capaz de tudo pela família. Minha vó poderia ter sido várias coisas, se o mundo em que ela cresceu fosse outro... e se ela tivesse tomado algumas decisões diferentes... Acho que muitas das suas reclamações, no fundo, diziam isso.
Nunca me esqueço de um dia em que ela me trouxe uma revista sobre a história da Unicamp (era minha mesmo, ela pegou em algum canto) e me citou, encantada e orgulhosa, uma frase que Zeferino Vaz teria dito aos militares nos duros anos da ditadura, "deixe que dos meus comunistas cuido eu". Minha vó sempre me surpreendeu com as coisas que percebia, e que valorizava...
No fundo, para acabar otimista, independente das frustrações e limitações, ela mandou muito bem. Hoje está firme e forte com seus quase noventa anos... e foi recentemente presenteada com a capacidade de não lembrar e, consequentemente, não mais sofrer. Vive a fazer crochê e palavras cruzadas, a curtir a família, e com um sorrisão lindo estampado no rosto.
Parabéns, vó...
Sem querer forçar aquela coerência biográfica do "nasci pra ser" antropóloga eu sou, sim, muito feliz com a minha escolha. O único problema com ela no momento, além do interminável trabalho de parto da tese, é o voto de pobreza que vem junto, a demora para poder "continuar a ser" antropóloga DD (depois do doutorado).
Acho que Bourdieu anda me assombrando (rs)... mas se até agora "tenho sido" antropóloga, "continuar a ser" depende do que vai acontecer nos próximos anos, comigo e com a minha carreira. Quais são minhas opções, os caminhos possíveis... Anda extensa, ainda, a lista de doutores desempregados e sei lá o que vou acabar fazendo, onde, em que "posição" vou me institucionalizar, se é que vou. Isso, me parece, é parte bem importante de "ser" qualquer coisa. Afinal, de contas, não sou Machado de Assis e a Antropologia não é Literatura.
Claro, minha formação fica comigo para sempre, nem que eu vá lavar pratos em Londres... o que às vezes não parece má idéia...
Pensei agora que a profissão talvez seja como um jardim que se cultiva diariamente, mas a imagem é poética demais para o dia-a-dia cada vez mais, ao que parece, emburrecido, apressado, burocrático e superficial. Ainda assim, a Antropologia me parece mais colorida do que muitas outras coisas. Por isso, de novo, não, não me arrependo. Enfim...
Todo esse blablablá pra dizer que ando pensando muito sobre o que a vida faz com as pessoas. Parte, talvez, por causa dessa fase de transição, as inseguranças e esperanças, os ex-sonhos que se desmancham de vez, os novos que se constituem... A possibilidade (finita e limitada, mas existente!) de se refazer planos... E com um rebento vindo por aí, tem batido aquele medo de ter que fazer escolhas apressadas e insatisfatórias... Aquele medo de acabar presa numa vida superficial, como em "Foi apenas um sonho" (lindo, com Winslet e Di Caprio... vcs viram?), e de me desesperar com isso... De certa forma, acho que a universidade alimentou em mim, assim como os sonhos dos artistas, a esperança de uma vida legal, plena, interessante, emocionante, aberta, frutífera... tantas coisas boas... mas será que o mundo está de acordo com isso?
Enfim, tudo isso (ai ai ai, os tortuosos caminhos da redação...) porque esta semana foi aniversário de 89 anos da minha vó.
E eu fiquei lembrando das coisas que ela me contava quando eu era criança... minha infância coincidiu com sua viuvez, e a leveza da relação cotidiana avó-neta permitiu que ela desabafasse coisas guardadas há anos, do seu casamento, da sua infância, de toda sua vida. Conheci minha vó a partir de muitas das suas insatisfações e arrependimentos. E, claro, ela é das figuras mais importantes na minha vida, eu a amo de paixão e tendo a ver muita injustiça, sim, no seu destino. Ela foi e ainda é - que fique claro - muito feliz em vários aspectos, mas o mundo lhe negou várias coisas, como nega a todos nós, infelizmente. Ainda que a uns mais do que a outros.
Minha vó tem a sensibilidade rara de sacar nuances, intenções, olhares, sentimentos. É perspicaz, de uma generosidade incrível, desprendida, capaz de tudo pela família. Minha vó poderia ter sido várias coisas, se o mundo em que ela cresceu fosse outro... e se ela tivesse tomado algumas decisões diferentes... Acho que muitas das suas reclamações, no fundo, diziam isso.
Nunca me esqueço de um dia em que ela me trouxe uma revista sobre a história da Unicamp (era minha mesmo, ela pegou em algum canto) e me citou, encantada e orgulhosa, uma frase que Zeferino Vaz teria dito aos militares nos duros anos da ditadura, "deixe que dos meus comunistas cuido eu". Minha vó sempre me surpreendeu com as coisas que percebia, e que valorizava...
No fundo, para acabar otimista, independente das frustrações e limitações, ela mandou muito bem. Hoje está firme e forte com seus quase noventa anos... e foi recentemente presenteada com a capacidade de não lembrar e, consequentemente, não mais sofrer. Vive a fazer crochê e palavras cruzadas, a curtir a família, e com um sorrisão lindo estampado no rosto.
Parabéns, vó...
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Entremundos
O que diz, dessa vez, o silêncio de Maria Bonita é que ando entremundos.
Tem sido um verão esquisito, ainda que interessante. Desde as insuportáveis chuvestes de janeiro (frio no verão não vale...) até os também invencíveis e impiedosos dias de calor e sol aqui, mais perto do Equador e onde o mar é mais azul.
O fato é que ando entremundos.
No purgatório, no limbo, em todos os lugares e em lugar nenhum, no "pré" e no "pós", no "antes" e no "depois".
Para onde eu moro, para o que eu "faço da vida", e para o que a vida vem fazendo multiplicar dia após dia, dentro de mim...
Não estou mais aqui (ainda que estando) e ainda não cheguei no meu próximo destino.
E tudo me é estranho.
As transições dóem e são feias. Mas desejadas, e necessárias.
Estou uma mistura de feliz com cansada, atrasada com ansiosa, esperançosa com melindrada.
Antecipando a vertigem da aterrisagem, mas ainda sentindo os efeitos da falta da gravidade e curtindo o prazer da vista da Terra à distância.
Estou entremundos. Em transe, transição.
Sem sofrer, mas em suspensão.
Esperando...
E aprendendo a esperar.
Tem sido um verão esquisito, ainda que interessante. Desde as insuportáveis chuvestes de janeiro (frio no verão não vale...) até os também invencíveis e impiedosos dias de calor e sol aqui, mais perto do Equador e onde o mar é mais azul.
O fato é que ando entremundos.
No purgatório, no limbo, em todos os lugares e em lugar nenhum, no "pré" e no "pós", no "antes" e no "depois".
Para onde eu moro, para o que eu "faço da vida", e para o que a vida vem fazendo multiplicar dia após dia, dentro de mim...
Não estou mais aqui (ainda que estando) e ainda não cheguei no meu próximo destino.
E tudo me é estranho.
As transições dóem e são feias. Mas desejadas, e necessárias.
Estou uma mistura de feliz com cansada, atrasada com ansiosa, esperançosa com melindrada.
Antecipando a vertigem da aterrisagem, mas ainda sentindo os efeitos da falta da gravidade e curtindo o prazer da vista da Terra à distância.
Estou entremundos. Em transe, transição.
Sem sofrer, mas em suspensão.
Esperando...
E aprendendo a esperar.
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