sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Déjà-vu


Até que ponto o lugar define a pessoa? Estive pensando nisso esses dias. Em como estar aqui alterou substancialmente não somente meu dia-a-dia, mas eu mesma.

Tenho observado algumas coisas, alguns hábitos locais. Por exemplo, o esquema “to go”. Uma coisa que, na minha opinião, não funciona conosco, no Brasil. Não tem essa de comer andando, ou no metrô, ou no trem. Bem, considerando ainda que não temos metrô nem trem na maioria das nossas cidades... Mas é impressionante a rapidez das filas nos cafés e deli's, e todos os aparatos que se criam pra atender os clientes apressados. Os copos de chás, cafés, a tampinha preparada pra você abrir e ir tomando no caminho, sem espirrar, a proteçãozinha para você não queimar os dedos com a quentura do copo (já a língua é por sua conta... rs... por mais prudente que eu tenha tentado ser, saber quando já “dá” é uma habilidade que ainda estou desenvolvendo...), os saquinhos de papel nos quais tudo é embalado para viagem. É divertido.

No arquivo, me vi de repente transformada em uma autêntica workaholic. Tá certo que tenho pouco tempo, muito material para ver, e decisões importantes para tomar com relação a isso nos próximos dias. Mas estou trabalhando loucamente, estimulada pela extrema competência dos arquivistas que me acompanham. Tudo que eu pensava em fazer mais para o fim do mês estou tentando encaixar nos próximos dias, para ver se consigo ampliar ainda mais o alcance da pesquisa no arquivo. Tom, um arquivista aposentado que trabalha dois dias por semana lá, voluntariamente – aqueles senhorezinhos que sabem absolutamente tudo sobre o arquivo – me passou o telefone de sua casa para que eu diga, no fim de semana, como será a pesquisa de sábado, que farei na biblioteca pública (!!!!). Quando me dei conta do nível de comprometimento da figura, bem, sim, aí veio o choque cultural. E um certo medo de estar alimentando isso. Poxa, o cara está aposentado, né... Não deveria estar nem aí... Mas está.

A equipe de pesquisadores que conheci nesta semana é muito legal. Tem uma alemã, muito simpática e bem humorada, com quem sempre converso. Estuda o museu de arte moderna de NY. Uma americana estudando uma reserva natural em algum estado do noroeste americano, um rapaz de Berlim e um senhor que me pareceu o Sherlock Holmes que eu imaginava quando lia Conan Doyle. Cabelos e barbas brancas, sobretudo, boina quadriculadinha e tudo. Assim que os vi, tive a sensação de que já os conhecera... Que coisa... eles não me eram estranhos... Fiquei encanada com isso. Será porque eles se parecem com alguém, ou será a proximidade acadêmica (todos pesquisadores têm uma “cara” ou um “jeito” específico?), ou algum “tilt” cerebral espaço-temporal. De qualquer forma, todos foram muito compreensivos quando eu, a la Bridget Jones, desastradamente liguei meu computador que havia entrado em hibernação quando eu ouvia música no último volume. O bendito não tem botão externo de volume e, até eu conseguir fazer alguma coisa para parar a música alta que inundava a sempre religiosamente silenciosa sala de pesquisa, eles se divertiram. E não se irritaram, o que prova que são pessoas legais. Inclusive o senhor arquivista, que gentilmente aproveitou a ocasião para solicitar que todos desligassem o toque dos celulares.

Bem, fico por aqui, o trem já se aproxima de Tarrytown. E hoje que deixei o guarda chuva em casa, parece que vai chover...

2 comentários:

Anônimo disse...

Minha linda, vc promete que escreverá um livro no futuro? Um romance. Que delicia ler seu comentário.Me vi na sala , na mesa ao lado...e até indo tomar um café com este gentil senhor aposentado. Mil beijos de sua comadre Ma

Dani disse...

Oi Má! Que bom você por aqui...
Um beijo com saudades...