Vou demorar para desfazer as malas.
Estou longe de chegar em casa, com um itinerário divertido, revendo pessoas queridas e com muitas coisas pra pensar e fazer. Em processo de volta, mas sem nunca chegar.
Estou feliz com os reencontros e passeios.
Estive no Rio, agora estou em São Paulo.
Mas hoje bateu um cansaço.
Choveu muito, está nublado e eu fico triste, com saudades do sol.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
O Taxista e Rosas Vermelhas
Despedi-me dos cachorros, Pierro e Cuchillo, já com saudades, da casa que me abrigara por quase um mês, do adorável Brooklyn. Deixei um postal de Little Italy, que conheci naquela tarde (e me encantei) com uma mensagem, também saudosa, e agradecida, para meus queridos anfitriões... E entrei no taxi que me levaria ao aeroporto com as minhas malas, lembranças e esperanças. Esse tempo foi muito bom, mas quero muito voltar para casa.
Carro meio velho, chacoalhava na avenida, que parecia com pneu furado. Cheguei a imaginar o taxista tirando minhas malas do carro para pegar o estepe. Mas era daquele jeito mesmo... e assim foi até o JFK.
O taxista, com sotaque estrangeiro, gostava de conversar. Ele vinha da Jordânia, estava em Nova Iorque há doze anos. Pergunto se pretende voltar, me diz que a vida é imprevisível. Mas que prefere muito mais estar ali do que na Europa.
"Aqui, podemos ser americanos. Na Europa nunca seremos europeus."
Relata, ressentido, a vez em que lhe recusaram a venda de um copo de cerveja na Alemanha.
"Aqui, não servimos pessoas da sua cor", a garçonete lhe teria dito.
Depois de me explicar com detalhes, e ainda inconformado com o preconceito da garçonete, a formação étnica e política dessa região da Alemanha à qual se referia, descubro que este gentil senhor é Bacharel em História Européia!
Esta mesma pessoa, taxista, feliz por levar e trazer pessoas pelas ruas e aeroportos de Gotham City. Que não quer ir embora...
Pergunto o que ele acha da situação dos imigrantes pós 11 de setembro. E ele me conta, também desapontado, que há algumas semanas passara por uma blitz e levara três multas. Uma delas por desacato à autoridade, porque não teria se conformado com o fato de que, antes de pedir para ver a sua licença para dirigir, o guarda lhe perguntara de onde ele era.
"O que importa de onde eu sou? Ele estava ali para ver meus documentos de motorista, e não para perguntar de onde eu vim!"
E ainda por cima o guarda teve a audácia de achar que ele era egípcio. E não sabia sequer ao certo onde ficava o Egito e a Jordânia. "Vá estudar Geografia, meu amigo!", pensou, irado. O caso foi rapidamente para a justiça. Semana passada tudo já estava resolvido. O juiz, com um mínimo de sensibilidade, o dispensou das multas e deu uma bronca no guarda de trânsito.
Para fechar minha viagem com chave de ouro, na fila do check in, noto um rapaz com comportamento estranho. De boina, cabeça baixa, combinava um encontro com alguém rapidamente pelo celular. Não que eu tenha desenvolvido essa habilidade de observar, preocupada, comportamentos estranhos. Mas são os ossos do ofício. Afinal, sou antropóloga.
Me distraio por alguns instantes, quando vejo uma movimentação de pessoas, surpresas e felizes, em frente ao balcão de check in. O rapaz, agora sem a boina, estava ajoelhado perante uma bela jovem, em prantos. Nas mãos, uma caixinha com, concluo com nenhum mérito excepcional, um anel de noivado. Ele lhe falava várias coisas, e ela chorava, chorava. Incrédula. E eu, a essas horas, também. Eu e uma parte das pessoas que estavam no saguão do aeroporto. Todos seus amigos e familiares. Com rosas vermelhas. E a cada pessoa querida que a bela funcionária da empresa aérea reconhecia entre a multidão, depois de aceitar o pedido de casamento do seu namorado, ela chorava, feliz por compartilhar com eles aquele momento tão lindo e especial. O rapaz da boina, com cinquenta quilos a menos nas costas, apenas observava, sorrindo satisfeito.
Por minutos, o atendimento da American Airlines parou. E ninguém reclamou.
Para o amor e suas loucuras, todas as concessões.
Carro meio velho, chacoalhava na avenida, que parecia com pneu furado. Cheguei a imaginar o taxista tirando minhas malas do carro para pegar o estepe. Mas era daquele jeito mesmo... e assim foi até o JFK.
O taxista, com sotaque estrangeiro, gostava de conversar. Ele vinha da Jordânia, estava em Nova Iorque há doze anos. Pergunto se pretende voltar, me diz que a vida é imprevisível. Mas que prefere muito mais estar ali do que na Europa.
"Aqui, podemos ser americanos. Na Europa nunca seremos europeus."
Relata, ressentido, a vez em que lhe recusaram a venda de um copo de cerveja na Alemanha.
"Aqui, não servimos pessoas da sua cor", a garçonete lhe teria dito.
Depois de me explicar com detalhes, e ainda inconformado com o preconceito da garçonete, a formação étnica e política dessa região da Alemanha à qual se referia, descubro que este gentil senhor é Bacharel em História Européia!
Esta mesma pessoa, taxista, feliz por levar e trazer pessoas pelas ruas e aeroportos de Gotham City. Que não quer ir embora...
Pergunto o que ele acha da situação dos imigrantes pós 11 de setembro. E ele me conta, também desapontado, que há algumas semanas passara por uma blitz e levara três multas. Uma delas por desacato à autoridade, porque não teria se conformado com o fato de que, antes de pedir para ver a sua licença para dirigir, o guarda lhe perguntara de onde ele era.
"O que importa de onde eu sou? Ele estava ali para ver meus documentos de motorista, e não para perguntar de onde eu vim!"
E ainda por cima o guarda teve a audácia de achar que ele era egípcio. E não sabia sequer ao certo onde ficava o Egito e a Jordânia. "Vá estudar Geografia, meu amigo!", pensou, irado. O caso foi rapidamente para a justiça. Semana passada tudo já estava resolvido. O juiz, com um mínimo de sensibilidade, o dispensou das multas e deu uma bronca no guarda de trânsito.
Para fechar minha viagem com chave de ouro, na fila do check in, noto um rapaz com comportamento estranho. De boina, cabeça baixa, combinava um encontro com alguém rapidamente pelo celular. Não que eu tenha desenvolvido essa habilidade de observar, preocupada, comportamentos estranhos. Mas são os ossos do ofício. Afinal, sou antropóloga.
Me distraio por alguns instantes, quando vejo uma movimentação de pessoas, surpresas e felizes, em frente ao balcão de check in. O rapaz, agora sem a boina, estava ajoelhado perante uma bela jovem, em prantos. Nas mãos, uma caixinha com, concluo com nenhum mérito excepcional, um anel de noivado. Ele lhe falava várias coisas, e ela chorava, chorava. Incrédula. E eu, a essas horas, também. Eu e uma parte das pessoas que estavam no saguão do aeroporto. Todos seus amigos e familiares. Com rosas vermelhas. E a cada pessoa querida que a bela funcionária da empresa aérea reconhecia entre a multidão, depois de aceitar o pedido de casamento do seu namorado, ela chorava, feliz por compartilhar com eles aquele momento tão lindo e especial. O rapaz da boina, com cinquenta quilos a menos nas costas, apenas observava, sorrindo satisfeito.
Por minutos, o atendimento da American Airlines parou. E ninguém reclamou.
Para o amor e suas loucuras, todas as concessões.
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