quarta-feira, 30 de julho de 2008

Para Saramágico

Em terra de cego...

Quem tem um olho é assassinado.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

25/07/1938



Um minuto de silêncio... que há 70 anos Maria Bonita era degolada viva.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Click

Acho que o problema não é tanto identidade e alteridade... esses são os reflexos e mecanismos.
O que "pega" mesmo é a condição de forasteiro competitivo. Ou, pior, no feminino.
Não é?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Identidade III

Segue em doses homeopáticas, porque... sim.


Na blogosfera, orkuts e myspaces da vida dá para tentar manipular alguma coisa... arriscar, inventar, mentir com alguma facilidade. Aliás, ontem vi na Folha uma tirinha ótima:










Mas eu estava pensando, e preocupada simplesmente com os efeitos que temos, "pessoalmente", nas pessoas com quem interagimos. Até que ponto somos reféns das leituras da nossa presença, e das diversas categorias que a classificam?

Ou, até que ponto é possível (ou desejável) prever os efeitos possíveis de uma "imagem" pessoal e "transformar" o corpo (numa concepção amplificada, em que caiba também a hexis corporal) de forma a afetar (ou manipular para os mais maquiavélicos, ou seja, conscientemente e da forma que "desejamos") a mensagem que transmitimos através dele?

E que viagem é essa de corpo e imagem? Isso tudo não sou "eu" mesma?

Enfim, devaneios pseudo-filosóficos, ultra-amadores. Espasmos de ter sido colocada involuntariamente numa posição de alteridade. Não prometo que chego onde eu pretendia no primeiro post da saga, embora eu tenha umas coisas ainda entaladas na garganta, mas vamos ver ainda onde isso vai dar... rs...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Identidade II - Ser ou ser

Continuando (a pedidos, eba!!!)...

Eu parei na primeira vez que eu tive que virar uma coisa que eu só era porque os outros ali talvez não fossem né? Então, a idéia era mesmo essa... Como as pessoas te localizam no tempo e no espaço, a partir dos lugares por onde você passou (os lugares, ou o lugar, de onde veio) e as leituras que fazem a partir da sua "presença material": a cor da sua pele, do seu cabelo, o tamanho e as formas do seu corpo, seu gênero, etc etc etc.

Eu sempre fui um pouco preguiçosa, não gostava muito de me esforçar para me enquadrar. Também não passei muito tempo naquele universo e logo fui estudar numa outra cidade, maior. Aliás, num lugar interessantíssimo também, do qual tenho ótimas recordações.

Mas a falta de "enquadramento", claro, teve efeitos. Um afastamento compulsório e voilá: o tal distanciamento que, com algum investimento teórico e metodológico, pode virar uma perspectiva antropológica. Virou, acho. Uma recusa desesperadora de "ser" qualquer coisa, ou "ser" aquilo que alguns queriam, ou diziam, que eu era. O que me encantava não era uma ou outra identidade qualquer: nunca vi vantagem em nenhuma das que me estavam disponíveis. O que me encantava era a possibilidade, ainda que praticamente inviável, de não ser, da efetiva metamorfose ambulante.

Mas, a pergunta, essa recusa é possível pra gente que é de carne e osso?

terça-feira, 1 de julho de 2008

Identidade I – Eu sou apenas um rapaz latinoamericano*

*Em homenagem a Orlando e Virginia Woolf, e de epígrafe pra o que vem a seguir.


Vamos por etapas. Puxei agora um fio complicado. Se eu tiver saco e disciplina, continuo a discussão em futuros posts. A pretensão é essa, já que este vai como o primeiro de próximos que virão. Quero chegar nas minhas andanças pela terra de Maria Bonita, e meu incômodo (colorido por um interesse antropológico, claro) com algumas figuras que encontrei por aqui. A ver.


Não sei exatamente como acabei virando antropóloga... mas certamente tem a ver, como provavelmente para todos os que o fazem, com um incômodo (em maior ou menor grau) com as questões de identidade e alteridade. Com o “outro”, para simplificar, ou a necessidade de que ele, ou você, seja estabelecido como tal. Não me lembro de ter precisado acionar qualquer identidade até bem pouco tempo atrás. Não que algumas delas (as identidades) não operassem (em mim ou para mim) à revelia. Mas enfim, eu não precisava levá-las em conta. Talvez tenha a ver com o fato de ter crescido onde cresci. Embora o Cambuci seja reconhecidamente um bairro onde se fixaram muitos imigrantes italianos (dentre os quais estavam, evidentemente, meus “ancestrais”), o fato de meu avô paterno (que morava no Ipiranga) ter se casado com a minha avó, vinda com a família dos cafundós do nordeste brasileiro tentar a vida na cidade grande, me dava não só uma melanina extra, coxas e canelas grossas e otras cositas más (rs), mas também uma sensação muito agradável da mistura interessante que se pretende caracterizar como “brasileira”. Brasileiro, essa coisa esquisita.


Até me incomoda fazer essa narrativa porque eu, depois de aprender a desconstruir algumas armadilhas das narrativas de identidades, achava que isso realmente não tinha tanta importância ou relevância assim. Talvez também porque nunca tenha aprendido as diferenças entre japoneses, chineses e coreanos, com quem convivi intensamente durante meus primeiros anos de colégio. Se eram os números de sobrenomes, o lado pra onde puxava o olho, ou seja lá o quê não importava: brincávamos juntos das mesmas coisas, nos períodos que se determinavam para tal. Umas pessoas eram mais legais, outras menos, e isso nada tinha a ver com a nacionalidade dos ancestrais. Algo, no entanto, me diz, puxando aqui pela memória, que havia uma resistência cultural à “assimilação” por parte dos pais das minhas amiguinhas... eles não gostavam que nós (as outras) as monopolizássemos demais. Até hoje muitas delas só namoram os “mesmos”. Mas, claro, não todas. Meus pais, pelo que me lembro, não estavam nem aí. Enfim.


O ponto é que, assim como não me via “italiana”, “nordestina” ou “brasileira” entre minhas amigas “orientais”, não me via, nem fazia idéia, do que viria a ser ser “paulista” ou “paulistana”. Claro, quando entra gênero a coisa complicava mesmo. Menina eu sempre fui e tive que ser, por uma série de motivos. Raça também era complicado. Dentre os “meus”, minha irmã e eu éramos as mais morenas. Nas férias de verão ficávamos “pretas” – essa palavra, mesmo. Nunca vi “cor”, mas também, mea culpa (não sei bem se mea, mas, rs), não havia tantos negros assim ao meu redor, pra que fosse uma categoria presente.


Apesar da minha infância com “outros” do outro lado do planeta, minha primeira experiência de alteridade foi quando eu virei paulistana, ao mudar pro interior do Estado. Nem era tão longe assim, menos de uma hora de carro, mas chegar de mudança da capital praquela cidadezinha de alguns milhares de habitantes, na época, foi certamente uma experiência dura para os meus pais. Saíram-se bem, por sorte (não é?), estão bem e felizes por lá. Mas sofreram com a pecha. Eu, não tanto. Que eu me lembre. Ou, não exatamente por “ser” paulistana, mas mais pelo entranhamento dos dois tipos ideais que eu encontrei por lá: os “nativos” (que por sinal tinham muito a ver com os “meus”, eram também descendentes de italianos, mas que tinham tido uma experiência social totalmente diferente da minha) e os “paulistanos” endinheirados das casas de veraneio (dos quais nos distinguíamos em algumas casas decimais).


To be continued...