quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A terra vista do céu


E de repente me vi dormindo a trinta e tantos mil pés.
Acordo assustada... que coisa esquisita que é dormir no céu, em movimento. Melhor nem pensar demais.
Mas, quase no final da viagem, uma imagem mágica: abro os olhos, olho pela janela e vejo, lá embaixo, ainda com as luzes do começo da madrugada, o desenho da minha universidade.
Tão único, tão repleto de significados, de propostas, de sonhos. A arquitetura concretizando projetos de conhecimentos, interações, circulações. E suas viagens.
De lá de cima eu via aquele espaço, que percorri por tantos anos, em tantas direções. Tão distante, mas tão próximo, e significativo para mim.

Eu, que mal me recuperava das emoções da despedida, sempre difícil e sofrida... me reencontrava, do céu, com este lugar, meu lugar, mas do qual tenho me aproximado e distanciado, em vários sentidos. Olhar para ele, assim, do céu, foi diferente, não só pela perspectiva, como pelo meu olhar mesmo, que já é outro. Assim como chegar aqui, onde foi a minha casa.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Estações

Chuvas no sul maravilha, e aqui recomeçamos a ligar os ventiladores.
Prenúncio do tempo, das estações, que andam meio atrasadas e desbaratinadas, mas que ainda mostram a que vêm, quando chegam.

Estou me preparando para partir.
Conhecer lugares novos. O mundo é tão vasto e a vida, tão rápida... que não há outra alternativa a não ser deixá-la nos levar para onde as coisas acontecem.
E eu, estou indo para o olho do furacão.

Estou feliz pelo que vem, mas triste por deixar a minha casa e os meus amores. Sempre é assim.

Mas nesse momento em que planejo o meu verão, e parte da primavera que resta e que será na verdade outono, eu repenso o ano que passou, mesmo sem ele ter passado ainda.
É, talvez, por causa da minha partida coincidente com essas datas importantes. E o que virá pela frente. Dezembro, mês do meu aniversário, é sempre aquela fase em que todos falam, meu deus, natal, esse ano voou. E olham para ele tal qual as pessoas para o pôr-do-sol. Mas também que se encontram, se amam, se curtem e curtem a vida.

Esse ano foi certamente um dos mais difíceis da minha vida.
Pelas mudanças e suas consequências, pelos cabelos brancos que se multiplicaram, pelos desesperos, tantos, que por vezes eu deixei me inundassem.
Mas é agora, às vésperas de colocar minhas coisinhas dentro da mala e partir, que eu olho para esse lugar, suas paisagens, pessoas e as minhas lembranças... e me dou conta do quanto foi bom estar aqui. Respiro. E que continue sendo, sempre, porque claro, eu devo voltar.

Do navio de Lévi-Strauss

Ainda com o entardecer como mote, um trechinho de Tristes Trópicos

"Eis por que os homens prestam mais atenção no sol poente do que no sol nascente; a aurora só lhes fornece uma indicação suplementar às do termômetro, do barômetro e - para os menos civilizados - das fases da lua, do vôo dos pássaros ou das oscilações das marés. Ao passo que um pôr-do-sol eleva-os, reúne misteriosas configurações as peripécias do vento, do frio, do calor ou da chuva nas quais seu ser físico se debateu. Os caprichos da consciência podem também ser lidos nessas constelações algodoadas. Quando o céu começa a se iluminar com os clarões do poente (assim como, em certos teatros, são as bruscas iluminações do proscênio, e não as três pancadas tradicionais, que anunciam o início do espetáculo), o camponês suspende sua caminhada pela trilha, o pescador retém seu barco e o selvagem pisca o olho, sentado perto de um fogo declinante. Recordar-se é uma grande volúpia para o homem, mas não na medida em que a memória se mostra literal, porque poucos aceitariam viver novamente as labutas e os sofrimentos que, no entanto, gostam de rememorar. A recordação é a própria vida, mas com outra qualidade. Assim, é quando o sol se abaixa sobre a superfície polida da água calma, tal como o óbolo de um celestial avarento, ou quando seu disco recorta a crista das montanhas como uma folha dura e denteada, que o homem encontra por excelência, numa curta fantasmagoria, a revelação das forças opacas, dos vapores e das fulgurações cujos obscuros conflitos, no fundo de si mesmo, e ao longo de todo o dia, ele vagamente percebeu."

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

I can't surf

Em contrapartida à minha falta de perspectivismo no post anterior...
Em homenagem ao Juca, com saudades do seu jeitão fofo.
E pra dizer que ontem decidimos que, pela primeira vez, Filó poria as patas no Atlântico.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Pôr do sol

É difícil saber se exageramos ou não a intensidade das coisas...

Não sei se é meu signo, apaixonado, ou herança (não genética, que fique claro) da minha avó, mas para mim a vida tem uma intensidade gigantesca.
A cada dia que nasce, eu sinto um frio na barriga... Estou viva! Estou aqui, em mim mesma, neste lugar. Todos os dias, em algum momento, eu penso nisso.

Ok, talvez essa sensação seja mais presente e ainda mais forte porque me dou conta que estou, nesses últimos tempos, muito só. E um pouco fora daquele cotidiano que engole nosso tempo, nossos sonhos e desejos, nossos pensamentos. Estou aqui.

Mas, de qualquer forma, fico pensando se sou eu que exagero ou se são as outras pessoas que minimizam demais... rs... minha terrível mania de querer estar sempre certa...

Ontem fui caminhar com Filó pela orla e vi um entardecer maravilhoso.
As cores e a profundidade do mar, a cidade anoitecendo devagar.
Navios enormes, partindo e chegando, brilhando com a luz do sol que já não se via.
O vento decidido, que arrasta pessoas e suas velas - das mais tradicionais às high-tech-esportes -radicais - pelas águas plácidas, perfeitas, dessa que eu acho é a praia mais linda que eu já vi.

Fascinada, inundada pela intensidade do meu testemunho desse momento, neste lugar, eu sorria simplesmente. Feliz. E olhei para minha pequena companheira, que a-do-ra essas caminhadas e hoje tinha até corrido um pouco comigo (!).
E pensei, um pouco melancólica, na hora: está aí o limite entre natureza e cultura. Eu não posso pegá-la no colo e dizer: não é maravilhoso tudo isso, querida?, que ela não compreenderia. As nuances das cores, a interação vento-vela-água-prancha-humano, o sol e a lua, o "eu"...

Mas hoje, aqui, escrevendo e repensando, lembrando da sua felicidade, pura e simples, por passear, ali, comigo... e considerando a minha dificuldade em reproduzir com palavras a minha experiência de ontem - principalmente, claro, pela minha limitação poética, rs - fiquei cá com as minhas dúvidas.
Até que ponto essa percepção da intensidade da existência precisa da linguagem? que pretensão a minha...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Festival de Filmes Online

Imagining ourselves, a global generation of women
Até 31 de outubro:

http://imaginingourselves.imow.org/pb/Home.aspx?lang=1

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Open Your Eyes @ C'était un rendez-vous

Music and la vérité

(para ler depois de ver o vídeo)


Dia desses me peguei encantada por um clip que passava na VH1, a MTV dos trintões.
Ao som da linda música do Snow Patrol, um carro percorre as ruas de Paris até chegar a Montmartre. Uma linda moça aguardava o motorista na sua escadaria. Pelo bonde que cruza o caminho, as centenas de carros antigos e a franjinha loura, visivelmente não era a Paris atual... Inimaginável para a produção de um clip, ou mesmo que fosse um curta, reproduzir tão fielmente um outro tempo, por um espaço tão longo.

Uma pergunta aos oráculos youtube e wikipedia e voilà: trata-se de um curta produzido no ano em que eu nasci, 1976, por Claude Lelouch, na onda do cinema verdade. O rapaz prendeu a câmera de 35mm no pára-choque do carro e saiu dirigindo como doido às cinco da madrugada em um domingo de agosto. Dizem que Lelouch chegou a ser preso por causa da direção irresponsável. O que parece esquisito. Mas enfim...
Na internet, especulações sobre a velocidade percorrida pelo carro (uns malucos fizeram até tabelas, de acordo com o percurso) e, principalmente, sobre qual carro seria - ferrari, mercedes? E se o som que se ouve no curta é o mesmo do carro em questão... Bem, parece que não.

Eu estava em dúvida se postava aqui a versão do clip, ou a original, com o som do carro acelerando. Ou ambas. Mas, depois desse quiprocó do carro, eu decidi que trilha sonora por trilha sonora, eu fico com a mais melódica.

Que vérité que nada!
There is no such thing.

Mas, claro, não deixem de ver o curta :)

http://www.youtube.com/watch?v=lyabObFKp0s

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Lua e Estrela

A lua está hoje, assim, um sorriso torto. Mas brilhante ofuscante.
Com uma covinha avermelhada piscando um pouco abaixo.

E eu voltei olhando para ela e pensando na nossa necessidade de estabelecer fronteiras e regras.
Será que existe um outro jeito? Um jeito de burlar nossas próprias limitações, e as do mundo e das pessoas, nossos fantasmas, um jeito de enganar a nós mesmos naquilo que não conseguimos resolver?

domingo, 14 de outubro de 2007

Paisagem

Num domingo lindo de sol, pra fazer vontade em quem só promete que vem...


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Cyborging

Internerd. Um dos apelidos que, em algum momento há não muito tempo, minha irmãzinha querida me emprestou. Na época eu nem era tanto assim. Tanto como sou hoje, sem sombra de dúvida. Eu sou uma ciborgue assumida. Sem problemas existenciais. Só políticos, claro.

Para mim, o computador é como se fosse de fato uma extensão, muito significante, de mim mesma. Parte imprescindível da minha existência, do meu dia-a-dia. Eu mal abro os olhos de manhã e já vou apertando o botão que me liga ao mundo. Enquanto tomo café, abro o programa que recebe meus emails, curiosa para ver se baixa alguma novidade importante. Se alguém respondeu, se alguém escreveu, ligo o msn, vejo quem tá online. Quem ainda não acordou, ou não tá em casa, opa, fulano acabou de chegar no trabalho. Confiro as principais notícias. O jornal televisivo tá sempre atrasado pra mim.

Passo o dia todo trabalhando nele... imagina, ele concentra todo o meu trabalho dos últimos... hum... cinco, seis anos? Várias pastinhas com arquivos de texto. Algumas nem sei "onde" guardei. É mesmo um saco fazer backup.

Mas, bem, morando longe, o computador me conecta a muita gente. Amigas queridas, de hoje, ontem e de muito tempo. Voltei a saber da vida e dos amores da minha melhor amiga de infância, com quem eu já não falava frequentemente porque a vida te leva pra outros lados.

Falo mais com a minha mãe pelo msn do que falava pessoalmente ou pelo telefone quando morávamos na mesma cidade. Falo com as minhas tias, com a minha prima que está no meio de um navio no pacífico, até com a minha avó de 87 anos. Claro, quando a colocam na frente da webcam porque aí também já era pedir demais.

Fico vendo esse pessoal que já nasce com celular na mão e aprende a digitar antes de escrever à mão... não sou saudosista, não vou dizer que acho horrível: eu realmente não sei o que seria da minha vida, hoje, sem a internet.

Na real, quando penso na minha infância pelos anos 80, eu me lembro de achar um absurdo não existirem algumas coisas, como, por exemplo, o que depois se convencionou chamar telefone celular. Achava um problemão ter que esperar uma pessoa e não ter como avisá-la de alguma coisa urgente porque ela já tinha saído de casa... Ah! se eu tivesse ligado segundos antes!

Eu pressentia a necessidade de uma ferramenta de busca... um oráculo que respondesse o que se sabe sobre qualquer coisa. Eu devia ter uns oito, nove anos, estava voltando pra casa com o ônibus da escola e me lembro de a engrenagem do portão eletrônico de um prédio de apartamentos ter me intrigado profundamente. Como funcionaria esse treco? pensei... Eu me lembro perfeitamente de pensar - deveria haver uma matéria na escola chamada "conhecimentos gerais". Queria poder chegar lá amanhã bem cedo, com as minhas fivelinhas e relógio colorido, que trocava pulseira, aro, caixa, tudo, e perguntar pra professora (geralmente era professora): professora, hoje eu quero saber como funcionam os portões eletrônicos!
Pensa! Coitada da professora! Na verdade, até hoje não sei como funcionam os portões eletrônicos. O lance é que o que eu queria mesmo era o google, a wikipedia, algo do tipo.

Sim, eu nasci pronta pra internet e pro computador.
Até confesso que guardo comigo uma pontinha de orgulho por saber que eu existi enquanto eles ainda não existiam, ou, que eu testemunhei os dois mundos. Uma risadinha... como se eu compartilhasse de um segredo do qual cada vez menos pessoas saberão.... Risadinha nervosa, porque é evidente que o acesso à informação, à comunicação, à tecnologia, está longe de ser igual para todos. Como o mundo, que é desigual, injusto, cruel, etc etc. Enfim, ainda há muitas pessoas vivendo sem computador, sem internet, sem celular. Por uma série de motivos. Inclusive, talvez, porque queiram.

Bem, tudo isso pra dizer que achei uma coisa hoje na internet que eu já "esperava", como ao celular e às ferramentas de busca. Minha primeira pesquisa foi quase toda no papel. Tenho pastas, textos, anotações com canetas coloridas. Meus trabalhos de graduação foram quase todos feitos à mão. Dos que digitei e imprimi, não guardei cópia digital.

Aos poucos, como na vida, na pesquisa, eu fui sendo fagocitada pelos recursos digitais. Muito mais fácil e rápido jogar o artigo ou o autor, ou o tema, no google scholar e baixar o pdf do jstor do que fazer uma escavação arqueológica das pastas de papéis.

Mas ainda era meio complicado pra anotar coisas... organizar, guardar, coisas que quero ler depois, que não deu tempo de terminar, livros que um dia eu vou querer comprar... enfim.
A promessa é tentadora, a ver se vai funcionar. Para usuários do Firefox:

http://www.zotero.org

terça-feira, 9 de outubro de 2007

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Gravestone

And today I am officially freaking out.
It feels good.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Oceano

Amar é um deserto
E seus temores

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O prédio que canta

Da janela do meu escritório eu vejo um prédio em construção. Por aqui há muitos.
Quando me mudei, ela ia do segundo para o terceiro andar.
Fui acompanhando, ao longo dos meses, o céu ser engolido por uma parede vermelha. E vendo pessoas que de vez em quando espreitam pelas janelas inacabadas com seus uniformes verde-bandeira.
Em breve o vermelho tijolo vai virar alguma combinação "étnica" de pequenas lajotas (preto, amarelo, branco, que cores serão?). E as janelas passarão a ser povoadas por outras pessoas, de roupas coloridas.

A cada andar que subia, eu ficava mais chateada com a construção... com esse assalto gradual do sol, da vista, do espaço. Espaço que era ar e que me foi roubado sem eu pedir, para se transformar em lugar de alguém, pessoas circulando, falando, vivendo.
Mas o que mais me intimidava era "ver" o passar do tempo, os dias semanas meses concretizando-se violentamente cada vez que eu tirava os olhos da tela do computador em busca de alguma coisa outra que não LCD ou letrinhas pretas no papel.

Pressentindo minha agonia, numa bela quinta feira à tarde, o prédio resolveu começar a cantar...
Parei tudo e fui à janela. De onde vinha aquele canto? Nada que se pudesse ver... os transeuntes também passavam, incrédulos. O prédio! Cantando!
As mãos que me roubavam dia a dia a vista nesta tarde se transformavam em vozes que me encantavam os ouvidos. E tem sido assim toda quinta feira desde então. Às quatro e meia da tarde, dos seus porões, o meu vizinho em construção me presenteia com uma serenata.

NYC


É fato.
As pessoas aqui são muito doces. Levei várias broncas por ter ido viajar sozinha.
"Mas por que você não me chamou? Eu iria com você!"
Coisa mais linda, né...

Bom, agora tenho um novo mapa para estudar.