Dias de molho e me rendi a certas coisas, como rever filmes queridos.
Cantando na chuva, juntamente com a Noviça Rebelde, foi daqueles filmes que eu vi, revi, trivi, trocentas mil vezes durante a minha infância... nas férias chuvosas ou sem mãe-torista, sessões da tarde preguiçosas, com brigadeiro de colher ou morangos com leite condensado.
Gravamos com o vídeo-cassete uma das vezes em que o filme passou na sessão corujão. Minha irmã e eu decoramos até os comerciais dos intervalos. O interesse era, penso, perceber cada cena, cada fala, cada movimento, cada música... e, claro, deliciar-se com o final feliz.
E nesses dias, depois de muitos anos, revi-o, em inglês e sem intervalos. Meio ressabiada, desconfiada de que não teria o mesmo prazer da infância e de que acabaria adormecendo em cena qualquer. Mas clássico é clássico, e pela enésima vez, o filme me tocou novamente.
Tá certo que o estado gravídico tem me feito chorar com comercial de margarina com a TV no "mudo", mas enfim...
Já no começo me peguei fascinada porque o filme fala de um dos temas que mais tem me interessado. O fio condutor do filme é a biografia do protagonista, o ator hollywoodiano Don Lockwood. Numa première (e no então já existente "tapete vermelho") ele narra a história de vida de um ator famoso e talentoso, que teria passado pelos melhores e mais reconhecidos circuitos do ramo artístico. Na tela, vemos o que se passou de verdade, e nada tem a ver com o que ele conta. Ele criança circulava pelos lugares mais decadentes, sapateando em público a troco de moedas e se agachando para entrar sem pagar nos cinemas "B" da cidade.
Delicioso.
Me ajeito no sofá, desistindo do cochilo previsto, para acompanhar o desenrolar da história.
Don sai de mais uma estréia de sucesso para aquelas festas super "privês" de comemoração, quando encontra a mocinha do filme, aspirante a atriz "de verdade" que resiste, inexplicavelmente, ao seu charme. E o questionamento do seu talento, profissional e galanteador, o desconcerta profundamente. A estrela retoma seu curso e começa a filmar seu novo filme sobre a Revolução Francesa com seu estridente par romântico, Lina Lamont. Mas o momento coincide com o advento dos "filmes falados", e o dono da gravadora decide, no meio do processo de gravação, introduzir neste filme um novo ingrediente tecnológico: o som.
Claro, a pré-estréia é um fiasco e a voz sofrível da "mocinha" não é o único motivo. O único ganho de Don durante as gravações é o reencontro tão esperado com Kathy Selden, e o prometido, leve, dançante e apaixonante romance. Juntos, e com o engraçadíssimo melhor amigo de Don, Cosmo Brown, os três amarguram numa noite chuvosa o que seria a derrocada da carreira do mocinho, quando relembram algo de sua biografia que estava escondido até então e que poderia salvá-lo: ele pode cantar e dançar! Porque não fazer então do filme um musical?
É a felicidade com essa nova perspectiva que faz Gene Kelly cantar e dançar deliciosamente pelas ruas chuvosas de Los Angeles. Sorrir de braços abertos para as nuvens negras que mandam a chuva pesada, porque o sol está no seu coração e ele está pronto para amar.
Não vou nem falar mais nada... só que me deu vontade uma vontade louca de fazer sapateado pra poder esperar a tempestade certa e fazer o mesmo...
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Assinar:
Postagens (Atom)