segunda-feira, 16 de março de 2009

Chegadas e Partidas

O tempo corre mais do que eu consigo acompanhar.
Já estou na minha nova cidade há uma semana, e me preparando, novamente, para partir.
A despedida da terra de Maria Bonita tentei minimizar, pensar que inevitável, necessária, indolor.
E foi mesmo assim, parti confiante e tranquila.
Pouca tristeza, saudades pontuadas, muitas esperanças.

Cheguei na cidade maravilhosa de braços abertos, como o Cristo Redentor.
E sim, o Rio de Janeiro continua lindo.
Logo nos primeiros dias tive uma surpresa muito agradável, que me deu a certeza de que tomamos a decisão certa.
Apesar de às vezes o coração apertar em dúvidas. Afinal, toda mudança e toda escolha tem suas consequências.

Mas a maior certeza foi me sentir novamente presente, ativa, parte do mundo.
A sensação de sair do estado de suspensão e invisibilidade no qual eu sentia que estava.
De voltar a ser eu mesma. E pulsar, junto à cidade.
Ainda que de barrigão.

Eu voltei, finalmente, há uma semana, a existir. A me encontrar.
Estranho, em um lugar estranho, novo, desconhecido.
Mas estou aqui. E muito feliz.

Tem sido interessante viver tudo isso ao mesmo tempo em que meu filho cresce dentro de mim.
De certa forma compartilhamos tudo, cada sensação, todos os caminhos, cada decisão.
Eu adoro a sua presença, amo cada movimento dele que eu sinto.
E, para vocês queridos desesperados e super cautelosos digo que SIM, eu páro quando estamos precisando parar.
Reconheço, portanto, que não estou só. E minhas decisões são sempre coletivas.

De toda essa metamorfose gravídica o que mais me surpreende é o quanto isso mobiliza as pessoas que me cercam.
Seja pelo estado "preferencial", que tem implicações subentendidas no nosso entorno impessoal, seja nas relações e expectativas de pessoas queridas.

A barriga é um assunto imediato, alvo de sorrisos cúmplices, miradas (mal)disfarçadas, solidariedade - ainda que às vezes forçada...
Uma senhora obesa e mal humorada no metrô me cedeu o lugar dizendo "eu estou pior do que você, mas tudo bem, senta aí".
Fiquei a viagem toda remoendo o assento cedido, a sua indelicadeza. Por azar, a dita cuja foi comigo até o ponto do ônibus da integração em que desci.
E teve que se sujeitar a me deixar vê-la em pé, no ponto, fumando um cigarro atrás do outro.
Sem querer ser moralista e anti-tabagista... mas concluí que isso a desqualificava de certa forma a descarregar em mim sua raiva pela hierarquia de "prioridades" - que ela mesma estabeleceu, afinal, se estava tão mal, não precisava ter levantado, eu não pedi...

Tudo isso me fez (re)pensar esse estado novo no qual me encontro.
A resposta tardia que dei, mentalmente, para esta senhora foi: obrigada, eu realmente não estou mal, nem era para estar.
Estou grávida, e só. É um estado especial, sim, muito especial...
E se o mundo puder ser mais gentil com essa especificidade, agradecemos muito. Afinal de contas, quem não prefere sentar no metrô?

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