Eu parei de cantar porque tive que tirar da minha vida meus sonhos, ilusões e loucuras. E esse foi com certeza o dia mais infeliz de todos. Porque foi ali que eu deixei de acreditar em mim também, que tive que me despedir da força do som que saía não só do meu coração, mas de todo o meu corpo. Das melodias que tocavam todos os poros, das vozes múltiplas, afinadas, lindas... que se transformavam naquela transcendência que fazia o mundo parecer valer a pena. As músicas, que fazem os corações se apaixonarem perdidamente mas que também apunhalam quando traduzem as dores humanas. As dores de amor.
O meu silêncio desde então é de medo de nunca vir a ser. De ser um castelo de cartas que desmorona com qualquer tremor. E a terra não é firme. Nunca será? E a correnteza estava mesmo para o lado errado naquele dia. Era provavelmente o vento, dizendo para o rio não ir para o mar. Mas ele, mais forte e mais profundo, deixou-se levar paciente e superficialmente até poder voltar para seu curso. Hoje, parece que está. Calmo e sereno continua correndo para desaparecer na imensidão das águas salgadas. Mas eu... eu continuo nadando contra a correnteza, e tenho muito medo de não conseguir mais nadar. Não consigo me transformar em peixe, e continuo sem saber o que eles fazem: se se deixam levar, se cansam, se se deixam morrer.
Eu fujo agora de músicas felizes, mas eu sei que elas me esperam para quando eu estiver pronta.