quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Identidade IV - De Maria Bonita e os meus demônios

Este blog começou da minha solidão, violentando minha natureza interativa tagarela e carentona. Mas foi um convite do Celo pra participar do blog sobre rosto, coisa e nome e eu pensei tanto tanto tanto num post, que acabei me inspirando pra fazer o maria bonita.

É que uma das referências locais aqui é o lugar onde expuseram as cabeças dos cangaceiros, dentre os quais a minha homenageada. Achei fascinante a história, o terror da política "headhunter" misturado com a pretendida contundência cientificista: chegaram a levar as cabeças pro Instituto de Medicina Legal da UFBa e a estudá-las a la Lombroso. Há todo um itinerário de circulação destas cabeças, passando aqui por Maceió. Fotos inclusive, é só fazer uma busca que vocês encontram. As cabeças passaram um tempo em exposição. No final, a briga das famílias para recuperá-las e dar a elas o "descanso merecido" junto com o resto do corpo. Que "os mortos que enterrem seus mortos" uma pinóia! E foram décadas.

Me encantaram algumas coisas em Maria Bonita. Assim como algumas senhorinhas que vejo por aqui, eu a acho às vezes parecida com a vaga lembrança que eu tenho da minha avó, o que me dá, claro, uma simpatia saudosa... Mas o que mais pegou para a escolha, e a homenagem, foi o choque de estar em um lugar onde as pessoas (homens e mulheres, que fique claro) não disfarçam o machismo. Entendem a ressalva né?

Onde aqueles preconceitos básicos de gênero, ultra criticados, e aqueles hábitos condenáveis operam a todo vapor e sem dó. Eu arriscaria dizer: um lugar que não sabe o que é, ou foi, ou foram, vai, no plural, os movimentos e reivindicações feministas. Portanto, onde ainda não existe "gênero". Só sexo mesmo.

Desde "quando eu era criança pequena lá em Barbacena" eu sentia que esse incômodo com o machismo era uma coisa meio anacrônica, de mulher deprimida preguiçosa e sem "fé" (no sentido amplo da palavra). Sempre tive um monte de figuras femininas poderosas pra me inspirar, e ainda tenho. E nunca tinha me intimidado.

Daí surgiram figuras como Foucault, Haraway e e Strathern na minha vida e ficou tudo ainda mais provável! As críticas dos "pós-várias coisas" (pós-modernismo, pós-feminismo etc etc) só pioraram essa sensação. (Pô, a galera não entende que poder é um negócio difuso, multinível, micro e macro ao mesmo tempo, blá blá blá? Patriarcalismo? Me poupe! Isso já era. Cachorro morto...).

De castigo, Deus me mandou pra cá, e de "esposa de".

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