quinta-feira, 29 de novembro de 2007

In between

Partirei amanhã.
Mas não vou escrever sobre isso. Vou fugir das despedidas, como prefiro fazer.

Andei bastante pela cidade hoje, o dia em que a árvore de natal do Rockefeller Center foi acesa. Grande festa, muitas pessoas nas ruas, trânsito desviado e, claro, caótico.
Cada quadra, casa, rua, cada pessoa que passeia com seu cachorro, cada janela, vitrine ou mesmo cada rosto me encanta e surpreende. Tem muito, de tudo. E muita beleza. E muita riqueza, riqueza demais, pelo menos para quem vive onde eu vivo.
Abismo.

Voltando para "casa" pelo metrô pensei, mais conformada, de que o que de fato me incomodava no metrô não era somente a ausência da paisagem da cidade. Algumas estações são até bem simpáticas. O que me incomoda, sim, é a recusa das pessoas em reconhecer aquele lugar naquilo que ele é. Ou, a sua existência neste lugar. Este caminho como real, como paisagem, como vida. O metrô é um espaço que não "conta", um limbo entre a origem e o destino. Os MP3/4, IPods, Games, jornais ou livros e as pálpebras fechadas são as ferramentas para a desconexão temporária com aquele lugar, concreto, onde se está. Onde todos estamos, por um momento, mesmo que com itinerários diferentes.

Pois bem, dito isto, duas coisas me encantaram no metrô.
A primeira foram os músicos, diversos, que transformam o barulho dos sapatos e o silêncio dos pensamentos nas estações.
A segunda são aquelas pessoas, maravilhosas, que falam sozinhas. Vi várias e há boas chances de que eu tenha sido uma delas em algum momento. Entediada naquela paisagem adorada por baratas (argh), de vez em quando eu me via sorrindo ao perceber um companheiro ou companheira de viagem discutir mentalmente com alguém, concluir algum pensamento importante, franzir a testa e fazer que não com a cabeça, sorrir, feliz (raro, mas aconteceu), cantar (ontem, um rapaz com uma partitura sentou ao meu lado), conversar (nos casos pouco frequentes de pessoas que andam acompanhadas).
Devo dizer, devo a essas pessoas a certeza da minha existência, naquele tempo e lugar. Embora eu também tenha aprendido a ler, ouvir música e cochilar.
Ao subverter a regra social número um para espaços urbanos de grande circulação (silêncio, discrição, inexpressão e distância do outro), elas me ajudaram a lembrar que não é somente o destino que interessa, mas também o caminho que se percorre.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi querida!
Adorei o que vc escreveu sobre o metrô...
E boa viagem!
Beijos
chris

Dani disse...

Obrigada querido.
Aproveite aí o finalzinho que depois vai dar saudades!
E avisa quando estiver por aqui...
Beijo!