terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Despedidas

Em clima de despedida, do ano, e do lugar...
Em breve deixaremos de vez a terra de Maria Bonita.
E antes tarde do que nunca fui visitar a cidade dos seus algozes. E da narrativa orgulhosa pela coragem necessária para exterminá-los. Como se bastasse, ou como se pudesse.

Terra linda, no entanto e, no momento, seca. Parada no tempo, congelada no espaço. Mas pessoas circulam, e são fascinantes. Sol impiedoso, mas águas transparentes e refrescantes.

E o sertão só me fez admirar ainda mais a beleza do azul, a dureza do amarelo, e a coragem do povo que consegue nele viver. E dos bichos e plantas.





Um novo ano de esperanças!
Como a que deve trazer, todos os anos, a promessa de dias de chuva.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Tum-tum

Posts suspensos por absoluta falta de energia.
Tudo canalizado para o serzinho que cresce sem parar aqui dentro.
E, o pouco -bem pouco - que sobra, para terminar a maledetta...

Mas queria contar que ontem ouvimos bater o coraçãozinho...
Tum tum tum tum tum, muito rápido, mas forte, contundente.
Papai está achando que vai ser baterista... rs...
Devo dizer que o pequeno (ou a pequena) surpreendeu a médica - que resolveu colocar o sonar só por "desencargo", porque com dez semanas, segundo ela, ainda não era para dar para ouvir.
Presentão de Natal!

Aliás, aproveito para deixar o meu beijo de boas festas... com gosto do sal do marzão azul e do sol de rachar o côco.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Maria

Eu ganhei da vida o maior presente, que é outra vida

Da minha sincronia com a lua, da busca difícil pela saúde e pela paz no coração
Desse lugar maravilhoso, que me presenteia com a ternura dos verdes e dos azuis
Das noites quentes de lua cheia aos dias discretos e reclusos de nova

Da recusa em seguir os pessimistas, tecnocratas da vida
Da ruptura com aquilo que eu não quero e que não me serve
E da jornada que tem sido conhecer a mim mesma

Mas principalmente do meu amor
E dessa fortaleza arenosa que são os nossos dias
Nasce essa criaturazinha, tão desejada e já tão amada

Que me dá a esperança de reconstruir o mundo todo, desde o começo

Este é da vida o maior presente, que nós ganhamos, nós e vocês... uma outra vida

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Don't ask

Life is what happens
While you're busy writing your thesis

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mulher ao Espelho

Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
Já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

Cecília Meireles
MAR ABSOLUTO - 1945.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Saudad's

Ai, q' hoje me bateu umas saudad's da t'rrinha, o pá!

Lisbon revisited (1926)
Álvaro de Campos

Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...


domingo, 12 de outubro de 2008

Viagens, e a volta

Cosmonauta soviético Serguei Krikaliov, apaixonado pelo cheiro do universo, responde ao jornalista sobre onde se sente mais feliz: se na Terra, se no espaço, no vôo para o espaço:

"Na Terra, imediatamente depois de um vôo. Não há nada mais belo."

Matéria do Mais!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Dormi de olhos abertos

Crianças batiam uma corda para eu pular.
Tac, tac, tac.
E você tem que achar o tempo certo para entrar, sem esbarrar, e pular na hora certa, milissegundos depois do tac.
Mas, quando consegui entrar, sumiram as crianças, a corda, o mundo.
E caí num feixe de luz e vento, supersônico e ultravioleta.
Como uma onda de força imprevisível que afoga e arrasta até depois de quando você gostaria que ela parasse.
Pós-semi-apocalipse.
Moída, tirei o cabelo da cara, cuspi a areia e sentei pra respirar.
Cavalo desinformado sobre a teoria do caos.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Aniversário

Hoje o Maria Bonita faz um ano... Então, vamos ao tradicional post de aniversário... rs...

Um ano... Meu prédio vizinho está pronto e não vejo mais o céu da janela do meu escritório. As cores são preto, branco e um laranja horroroso que no fim da tarde vira um espelho para a luz do sol, de dar aqueles reflexos impossíveis de olhar, sabe? Bem na minha janela. Está pronto, ready and willing, mas por algum (provavelmente breve) motivo, por enquanto ninguém o habita. E ele não canta mais para mim. Há um bom tempo, na verdade.

Descobri que eu gosto de formas de marcar o tempo. Adoraria, por exemplo, viver em um lugar em que as estações do ano são mais visíveis. As estações concentram um grande rendimento metafórico, filosófico, simbólico, enfim. Também nos forçam a movimentos interessantes. Proteger-se de um inverno rigoroso, admirar o desabrochar das flores, valorizar o sol e o calor do verão, perder-se nas cores do outono... coisas assim... Não sei, me parece, a vida fica mais sensorial.

Me pego sempre procurando os sinais que o mundo me dá das repetições, dos seus ciclos. Na ausência das nuances das meias estações (aqui só se fala em inverno e verão, e é quase só mesmo isso), comecei a prestar mais atenção na Lua.

Segunda feira, véspera de feriado estadual, fomos os três caminhar pela orla ao anoitecer. E eis que ela surge em meio às nuvens do horizonte atlântico, cheia e vermelhíssima. Tudo quase pára nessas horas. É um espetáculo, óbvio, inspirador. Lindo.

Mas gosto muito, também, da Lua Nova. Finíssima, quase sempre praticamente imperceptível, abstém-se de ser a protagonista noturna e aparece timidamente durante o dia. Não se furta da companhia do seu oposto simétrico. Adoro achá-la, o que dá sempre algum trabalho...

Se existe algo que uma bela paisagem (não vou chamar de natural) proporciona, é esse prazer estético sensorial. Para mim, esses momentos de percepção do mundo em que habito são (quase) religiosos. Fundamentais. Sinto falta, física, deles.

Há um ano resolvi enfrentar meu pânico dos blogs e orkuts da vida (e seus potenciais para a exposição pessoal, para o bem e para o mal, ou para além do bem e do mal)... e fazer o exercício de registrar algumas das minhas angústias, pensamentos, sentimentos que vinham dos meus encontros, e desencontros. Não só por estar aqui (nesta cidade). Mas também.

Olhando hoje com uma certa distância, foi verdadeiramente uma das fases mais difíceis da minha vida. Se é que existem fases, e caso tenha sido mesmo uma fase, se é que passou. Enfim. Um momento muito difícil... E da vontade de sair dele, e de fazer dele sair uma coisa bonita, por isso também o bonita no nome, e o belo na vida.

Aos amigos, amigas, queridos e queridas, leitores (silenciosos e desconhecidos ou não), meu abraço forte e saudoso, de lua cheia e começo de primavera. Uma lágrima (feliz) de cúmplice felicidade por compartilhar com vocês a existência nesse mundo misterioso e cheio de percalços. E que ele seja, sempre, para todos nós, mais bonito.

domingo, 7 de setembro de 2008

Sede

Dias azuis de sol
Noites frescas
Casas geladas

Narinas com sede
O diabo tragando o mato seco

O mesmo, que é outro
Num fim de inverno em São Paulo

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Aviso aos navegantes...

Semana que vem tô chegando por aí!

Com Totó e meus sapatinhos prateados... rs...
Preparem os copos!

sábado, 16 de agosto de 2008

Perspectivas olímpicas

Lamentável a performance brasileira nas olimpíadas. Não sou nacionalista, muito menos esportista. Estou envergonhada, na verdade, com a comoção nacional quase desesperada por uma ou outra mirrada medalha. O que faz dos vencedores mais heróis ainda, do que poderiam (ou deveriam) ser.

Não sei se é só falta de políticas consistentes de apoio ao esporte (como vale para educação, saúde etc), se tem a ver com nossa tendência "macunaíma" ou se, sei lá, não sabemos controlar a pressão e a emoção tão bem quando os nossos anfitriões e seus vizinhos, ou nossos ancestrais europeus, ou os X-Men americanos... Ou, ainda, se estamos na vanguarda de um mundo menos competitivo ou se sacamos que a busca pelo super-humano é uma barca furada... enfim...

Fato é que estou hoje extasiada por rever, cada vez com uma nova trilha sonora mais emocionante, os vinte segundos que deram ao filho do Cielo (todo mundo esquece do pai do cara) a primeira :S medalha de ouro brasileira.

Do fundo da piscina, sou convidada a observar o rosto do rapaz que traz o céu no nome enquanto ele atravessa como um pássaro a piscina olímpica. A feição transparece uma força que parece quase sobrehumana e o corpo-peixe, visto de baixo, faz da água quase nada. É a luta contra ela, afinal de contas. Eu, signo de fogo, admiro. Jamais vou compreender a água assim. Nem sequer pensaria nisso, não fossem Cielo, brasileiro, e as câmeras do fundo da piscina.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Identidade IV - De Maria Bonita e os meus demônios

Este blog começou da minha solidão, violentando minha natureza interativa tagarela e carentona. Mas foi um convite do Celo pra participar do blog sobre rosto, coisa e nome e eu pensei tanto tanto tanto num post, que acabei me inspirando pra fazer o maria bonita.

É que uma das referências locais aqui é o lugar onde expuseram as cabeças dos cangaceiros, dentre os quais a minha homenageada. Achei fascinante a história, o terror da política "headhunter" misturado com a pretendida contundência cientificista: chegaram a levar as cabeças pro Instituto de Medicina Legal da UFBa e a estudá-las a la Lombroso. Há todo um itinerário de circulação destas cabeças, passando aqui por Maceió. Fotos inclusive, é só fazer uma busca que vocês encontram. As cabeças passaram um tempo em exposição. No final, a briga das famílias para recuperá-las e dar a elas o "descanso merecido" junto com o resto do corpo. Que "os mortos que enterrem seus mortos" uma pinóia! E foram décadas.

Me encantaram algumas coisas em Maria Bonita. Assim como algumas senhorinhas que vejo por aqui, eu a acho às vezes parecida com a vaga lembrança que eu tenho da minha avó, o que me dá, claro, uma simpatia saudosa... Mas o que mais pegou para a escolha, e a homenagem, foi o choque de estar em um lugar onde as pessoas (homens e mulheres, que fique claro) não disfarçam o machismo. Entendem a ressalva né?

Onde aqueles preconceitos básicos de gênero, ultra criticados, e aqueles hábitos condenáveis operam a todo vapor e sem dó. Eu arriscaria dizer: um lugar que não sabe o que é, ou foi, ou foram, vai, no plural, os movimentos e reivindicações feministas. Portanto, onde ainda não existe "gênero". Só sexo mesmo.

Desde "quando eu era criança pequena lá em Barbacena" eu sentia que esse incômodo com o machismo era uma coisa meio anacrônica, de mulher deprimida preguiçosa e sem "fé" (no sentido amplo da palavra). Sempre tive um monte de figuras femininas poderosas pra me inspirar, e ainda tenho. E nunca tinha me intimidado.

Daí surgiram figuras como Foucault, Haraway e e Strathern na minha vida e ficou tudo ainda mais provável! As críticas dos "pós-várias coisas" (pós-modernismo, pós-feminismo etc etc) só pioraram essa sensação. (Pô, a galera não entende que poder é um negócio difuso, multinível, micro e macro ao mesmo tempo, blá blá blá? Patriarcalismo? Me poupe! Isso já era. Cachorro morto...).

De castigo, Deus me mandou pra cá, e de "esposa de".

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Para Saramágico

Em terra de cego...

Quem tem um olho é assassinado.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

25/07/1938



Um minuto de silêncio... que há 70 anos Maria Bonita era degolada viva.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Click

Acho que o problema não é tanto identidade e alteridade... esses são os reflexos e mecanismos.
O que "pega" mesmo é a condição de forasteiro competitivo. Ou, pior, no feminino.
Não é?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Identidade III

Segue em doses homeopáticas, porque... sim.


Na blogosfera, orkuts e myspaces da vida dá para tentar manipular alguma coisa... arriscar, inventar, mentir com alguma facilidade. Aliás, ontem vi na Folha uma tirinha ótima:










Mas eu estava pensando, e preocupada simplesmente com os efeitos que temos, "pessoalmente", nas pessoas com quem interagimos. Até que ponto somos reféns das leituras da nossa presença, e das diversas categorias que a classificam?

Ou, até que ponto é possível (ou desejável) prever os efeitos possíveis de uma "imagem" pessoal e "transformar" o corpo (numa concepção amplificada, em que caiba também a hexis corporal) de forma a afetar (ou manipular para os mais maquiavélicos, ou seja, conscientemente e da forma que "desejamos") a mensagem que transmitimos através dele?

E que viagem é essa de corpo e imagem? Isso tudo não sou "eu" mesma?

Enfim, devaneios pseudo-filosóficos, ultra-amadores. Espasmos de ter sido colocada involuntariamente numa posição de alteridade. Não prometo que chego onde eu pretendia no primeiro post da saga, embora eu tenha umas coisas ainda entaladas na garganta, mas vamos ver ainda onde isso vai dar... rs...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Identidade II - Ser ou ser

Continuando (a pedidos, eba!!!)...

Eu parei na primeira vez que eu tive que virar uma coisa que eu só era porque os outros ali talvez não fossem né? Então, a idéia era mesmo essa... Como as pessoas te localizam no tempo e no espaço, a partir dos lugares por onde você passou (os lugares, ou o lugar, de onde veio) e as leituras que fazem a partir da sua "presença material": a cor da sua pele, do seu cabelo, o tamanho e as formas do seu corpo, seu gênero, etc etc etc.

Eu sempre fui um pouco preguiçosa, não gostava muito de me esforçar para me enquadrar. Também não passei muito tempo naquele universo e logo fui estudar numa outra cidade, maior. Aliás, num lugar interessantíssimo também, do qual tenho ótimas recordações.

Mas a falta de "enquadramento", claro, teve efeitos. Um afastamento compulsório e voilá: o tal distanciamento que, com algum investimento teórico e metodológico, pode virar uma perspectiva antropológica. Virou, acho. Uma recusa desesperadora de "ser" qualquer coisa, ou "ser" aquilo que alguns queriam, ou diziam, que eu era. O que me encantava não era uma ou outra identidade qualquer: nunca vi vantagem em nenhuma das que me estavam disponíveis. O que me encantava era a possibilidade, ainda que praticamente inviável, de não ser, da efetiva metamorfose ambulante.

Mas, a pergunta, essa recusa é possível pra gente que é de carne e osso?

terça-feira, 1 de julho de 2008

Identidade I – Eu sou apenas um rapaz latinoamericano*

*Em homenagem a Orlando e Virginia Woolf, e de epígrafe pra o que vem a seguir.


Vamos por etapas. Puxei agora um fio complicado. Se eu tiver saco e disciplina, continuo a discussão em futuros posts. A pretensão é essa, já que este vai como o primeiro de próximos que virão. Quero chegar nas minhas andanças pela terra de Maria Bonita, e meu incômodo (colorido por um interesse antropológico, claro) com algumas figuras que encontrei por aqui. A ver.


Não sei exatamente como acabei virando antropóloga... mas certamente tem a ver, como provavelmente para todos os que o fazem, com um incômodo (em maior ou menor grau) com as questões de identidade e alteridade. Com o “outro”, para simplificar, ou a necessidade de que ele, ou você, seja estabelecido como tal. Não me lembro de ter precisado acionar qualquer identidade até bem pouco tempo atrás. Não que algumas delas (as identidades) não operassem (em mim ou para mim) à revelia. Mas enfim, eu não precisava levá-las em conta. Talvez tenha a ver com o fato de ter crescido onde cresci. Embora o Cambuci seja reconhecidamente um bairro onde se fixaram muitos imigrantes italianos (dentre os quais estavam, evidentemente, meus “ancestrais”), o fato de meu avô paterno (que morava no Ipiranga) ter se casado com a minha avó, vinda com a família dos cafundós do nordeste brasileiro tentar a vida na cidade grande, me dava não só uma melanina extra, coxas e canelas grossas e otras cositas más (rs), mas também uma sensação muito agradável da mistura interessante que se pretende caracterizar como “brasileira”. Brasileiro, essa coisa esquisita.


Até me incomoda fazer essa narrativa porque eu, depois de aprender a desconstruir algumas armadilhas das narrativas de identidades, achava que isso realmente não tinha tanta importância ou relevância assim. Talvez também porque nunca tenha aprendido as diferenças entre japoneses, chineses e coreanos, com quem convivi intensamente durante meus primeiros anos de colégio. Se eram os números de sobrenomes, o lado pra onde puxava o olho, ou seja lá o quê não importava: brincávamos juntos das mesmas coisas, nos períodos que se determinavam para tal. Umas pessoas eram mais legais, outras menos, e isso nada tinha a ver com a nacionalidade dos ancestrais. Algo, no entanto, me diz, puxando aqui pela memória, que havia uma resistência cultural à “assimilação” por parte dos pais das minhas amiguinhas... eles não gostavam que nós (as outras) as monopolizássemos demais. Até hoje muitas delas só namoram os “mesmos”. Mas, claro, não todas. Meus pais, pelo que me lembro, não estavam nem aí. Enfim.


O ponto é que, assim como não me via “italiana”, “nordestina” ou “brasileira” entre minhas amigas “orientais”, não me via, nem fazia idéia, do que viria a ser ser “paulista” ou “paulistana”. Claro, quando entra gênero a coisa complicava mesmo. Menina eu sempre fui e tive que ser, por uma série de motivos. Raça também era complicado. Dentre os “meus”, minha irmã e eu éramos as mais morenas. Nas férias de verão ficávamos “pretas” – essa palavra, mesmo. Nunca vi “cor”, mas também, mea culpa (não sei bem se mea, mas, rs), não havia tantos negros assim ao meu redor, pra que fosse uma categoria presente.


Apesar da minha infância com “outros” do outro lado do planeta, minha primeira experiência de alteridade foi quando eu virei paulistana, ao mudar pro interior do Estado. Nem era tão longe assim, menos de uma hora de carro, mas chegar de mudança da capital praquela cidadezinha de alguns milhares de habitantes, na época, foi certamente uma experiência dura para os meus pais. Saíram-se bem, por sorte (não é?), estão bem e felizes por lá. Mas sofreram com a pecha. Eu, não tanto. Que eu me lembre. Ou, não exatamente por “ser” paulistana, mas mais pelo entranhamento dos dois tipos ideais que eu encontrei por lá: os “nativos” (que por sinal tinham muito a ver com os “meus”, eram também descendentes de italianos, mas que tinham tido uma experiência social totalmente diferente da minha) e os “paulistanos” endinheirados das casas de veraneio (dos quais nos distinguíamos em algumas casas decimais).


To be continued...


quinta-feira, 26 de junho de 2008

Com a filha de João


São João animadaço e o sempre atual tema do casamento... rs...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A minha Speranza

"O sujeito é um objeto desqualificado. O meu olho é o cadáver da luz, da cor. O meu nariz é tudo o que resta dos odores quando a sua irrealidade fica demonstrada. Mas a minha mão refuta a coisa tida. Logo, o problema do conhecimento nasce dum anacronismo. Implica a simultaneidade do sujeito e do objecto, cujas misteriosas harmonias desejaria iluminar. Ora o sujeito e o objecto não podem coexistir porque são a mesma coisa, a princípio integrada no mundo real, depois lançada à escória. Robinson é o excremento pessoal de Speranza. Esta fórmula espinhosa enche-me de sombra e satisfação. Pois mostra-me a senda estreita e escarpada da salvação, duma certa salvação pelo menos, a duma ilha fecunda e harmoniosa, perfeitamente cultivada e administrada, forte pelo equilíbio de todos os seus atributos, seguindo sempre a direito, sem mim, pois que tão próxima de mim que, mesmo como puro olhar, já seria demasiado de mim, e tornar-se-ia necessário reduzir-me a esta fosforecência íntima que faz cada coisa ser conhecida sem alguém que conheça, consciente sem alguém que tenha consciência... Ó subtil e puro equilíbrio, tão frágil, tão precioso!"


Num dia chuvoso e (quase) solitário... de uma ilha qualquer, a minha ilha Speranza.

Trechinho de "Sexta-feira ou os limbos do Pacífico", de Michel Tournier. Edição Relógio D'Água (isto é, com o charme peculiar dos "donos" da língua, rs).

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Pé na areia

Filó na praia de Carro Quebrado, logo depois de desatolarmos o golzinho da lama. Ironias do destino. Afinal, o nome não deve ser à toa. Nunca é.

Mas então, vamos ao que interessa, que é ser feliz.


terça-feira, 3 de junho de 2008

Os lugares...

Encontrei Maria Bonita.
E ela, sorridente, piscou para mim, e me disse:

Minha filha, você acha que se isso aqui prestasse eu tinha largado tudo pra viver de arma em punho no sertão?

Novos tempos, velhos problemas.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Noites em claro

O mundo anda em provas
E tem gente que eu amo sofrendo

É mais difícil ter esperança em dias chuvosos
Mas pelo menos ontem entrou a lua cheia

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Last minute panic



Fase "tirinhas". Bem que eu queria que a tese pudesse ser uma tirinha: em três ou quatro quadradinhos, dizer o que tem que ser dito, e sair pro abraço. Juro, até tentaria aprender a desenhar...
Mas enfim, quando coloquei a anterior, lembrei dessa... é um "apud" ex-blog (?) da meme, há alguns anos já... Mas é ainda mais eloquente que a anterior. Para uma madrugada de feriado (dia do trabalho!!!), especialmente. Inspiradora.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Deadlines

terça-feira, 22 de abril de 2008

Os caminhos da vida

Se as coisas se confirmarem como eu estou prevendo, eu vou ter que começar a acreditar em destino.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Verdade e versões

Fui pega pela novela, não tem como. Não resisto a um enredo policial.
E esse bombardeio de informações sobre os detalhes do crime... as perguntas sem respostas... o apelo da tragédia, da crueldade e do sangue frio do ser que teve a capacidade de asfixiar uma criança, cortar a tela, passar o corpo dela por ali e entregá-lo à morte então, esperava-se, certa...

Descobri então hoje que o badalado casal decidiu falar com a imprensa. Escolheu, claro, a Globo, e o Fantástico. Fui assistir pela internet. São trinta e seis minutos esquisitos na sua vida. Você está sentado na sala de estar do prédio de classe média em frente àquele casal que você viu fugindo pra lá e pra cá nas fotos e matérias da imprensa.

A moça com aquela gola do casaco (supostamente) displicentemente torta porque ela está em frangalhos... um terço preso entre os dedos... recontando todas as histórias de amor, carinho e amizade com a enteada, aquelas que provocavam saudades e emoção e a faziam chorar. Chore bastante, quanto mais você conseguir, pensei no advogado a instruindo. Olhava sempre para baixo, encarando o repórter apenas quando dizia que eles são inocentes e que Deus é a única testemunha.

O rapaz, inconsistente, olhava para vários lados ao mesmo tempo, muitas vezes para alguém que estava ali ao lado, pai ou advogado ou ambos, em busca de aprovação. Discurso ensaiado, do quanto eles eram unidos, família feliz e perfeita, viviam juntos em harmonia, os filhos sempre foram tudo para eles, em suma, eles não tinham motivo para ter feito aquilo. Como se família perfeita fosse uma coisa que existisse...

Talvez eu nestas poucas linhas tenha sido mais convincente do que ele nos trinta e seis minutos. Bem mais atrapalhado, com as palavras principalmente, ou pra executar o discurso ensaiado, quase não chorou, e continuou ignorando sistematicamente as provas que a polícia teria levantado contra eles. Negando até a morte. "Desconheço, não entendo como isso pôde acontecer, é o que a gente se pergunta também".

Eu não vou julgar, claro que fui levada, como quase todo mundo, a ter praticamente certeza pelos indícios que foram defendidos pela polícia de que eles foram, realmente, os culpados. Mas tentei assistir à entrevista sem decidir para um lado ou para o outro. Confesso, fiquei muito inclinada a acreditar que eles não estão dizendo a verdade embora a sensação é de que eles estão desesperadamente tentando fazer-me acreditar no contrário.

É meio óbvio que aquilo é uma encenação. Os caras estão correndo o risco de serem linchados na rua. Mesmo que fossem culpados, não deixariam de usar aquele tempo nobre que a gigante da telecomunicação lhes oferecia para tentar reverter alguns pontos a seu favor. Afinal de contas, o julgamento popular conta demais nesse processo todo.

A gente no fundo quer acreditar que eles não seriam capazes daquela crueldade. E mais, que não seriam capazes de fazer aquilo e aparecer de cara lavada chorando e falando que amavam a Isa... a princesinha do papai...

Pra mim é isso: eu sou capaz de conceber a possibilidade de um acesso de fúria e violência como parte da natureza humana. Parte abominável, que não deveria acontecer, contra a qual a gente aprende (ou deveria aprender) a lutar com todas as forças. Mas que pode, sim, acontecer. Tanto que aconteceu. Sejam eles os assassinos ou não. Alguém foi.

Num caso desses é fácil pensar no que seria o "real". Em o que são verdades, mentiras e versões. Todo crime é assim e é por isso que Sherlock Holmes é tão sedutor. Porque ele consegue recompor perfeitamente "o que aconteceu" a partir de um estudo meticuloso e infalível dos indícios.

Bem, aconteceu que alguém esganou e jogou a menina pra janela. É fato. Ela está morta e enterrada. É real. O que o pai e a madrasta contam é uma versão: a de que não foram eles.

O que me violenta pessoalmente não é a violência e a covardia com a criança: muitas situações como essa acontecem todos os dias em vários cantos do planeta, infelizmente. O que mais me assusta é a possibilidade da figura, caso culpada, inventar uma outra versão e tentar salvar a sua pele a todo custo. É a mentira deslavada pra se safar. To try to get away with murder. É a possibilidade de a pessoa além de fazer uma coisa dessas, ainda olhar para você, e dizer que uma coisa que aconteceu não aconteceu, não.

É a dúvida.
O jogo.
A mentira.
A covardia de construir verdades convenientes para não enfrentar os próprios erros.
É essa capacidade cruel que nós temos, em maior ou menor grau, de dissimular. É o efeito Capitu no nosso coração Bentinho. E vice-versa. Para o bem e para o mal.
E contra isso, ainda, o peso de uma intuição mal resolvida, que grita nas orelhas do coração que aconteceu isso ou aquilo, mesmo sem provas.
Me faz pensar que a vida é também a arte de não se fazer enganar.

Como parece talvez ser para a Neide, figura carimbada que vem semanalmente fazer as minhas unhas e me trazer notícias desse mundo tão distante de mim que é o das Marias Bonitas da cidade. Uma história de vida incrível, qualquer hora eu conto o que der por aqui. Ela disse desde o primeiro dia que isso era coisa da madrasta. Sem um pingo de dúvida, uma convicção desconcertante de quem sabe o que a vida pode fazer com as pessoas. A ver.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Under pressure

Tenho certeza de que perdi a corrida com o tempo. Ele ganhou, desisto, não consigo acompanhá-lo, sinto muito. Estou dias, semanas, talvez meses (ai, anos??) atrasada para tudo o que eu já deveria ter terminado.

Totalmente engolida pela escada rolante que anda no sentido contrário.

Obviamente não só eu mesma, você também deve se sentir assim. E fico lembrando de ter lido tantas vezes sobre a compressão do espaço-tempo na graduação.

Alguém pára o ônibus? Que eu não quero descer... mas queria poder olhar direito a paisagem...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

O medo do medo que dá

Era pra por a letra, com a música... porque ambas são lindas e fazem uma combinação porreta...
Mas achei esse vídeo e não resisti.


quarta-feira, 9 de abril de 2008

Elevadores e tsunamis

Algum analista de plantão por aí?

Fiz as pazes com Maria Bonita.
O que andava ruim na minha vida virou de ponta cabeça e agora tudo são flores.
Mas a noite passada tive dois pesadelos. Algumas coisas novas, mas os pesadelos recorrentes de toda a minha vida. Psicodélicos, como sempre.

Devia ser por volta de 1985, e como em todas as manhãs descíamos pelo elevador para a garagem, para que minha mãe nos levasse de carro para a escola, antes de ir para o trabalho. Não sei o que houve mas o elevador chegou ao segundo subsolo - andar inferior do prédio - e, sem abrir as portas nem parar, começou a subir novamente. Pânico. Alguém então foi apertando os botões dos primeiros andares e, não me lembro direito, mas acho que o elevador parou lá pelo terceiro ou quarto andar. Saímos sem grandes problemas e então descemos pela escada. Sem grandes danos.
Apesar deste episódio traumático, eu não tenho medo de elevadores. Entro numa boa, em qualquer um, pra qualquer andar. Nem penso nisso.

Mas o fato é que a partir desse dia eu passei a sonhar com elevadores descontrolados. rs...
Algo meio Matrix ou sei lá, Blade Runner, como se as máquinas (no caso, os elevadores) de uma hora pra outra resolvessem deixar de funcionar da forma "prevista". O repertório de rebeldias é vasto: desde o traumático desce-tudo-e-não-pára (com escalas diferenciadas de velocidade que chegam à queda livre, bem acelerada e vertiginosa), até o vôo vertical interminável para cima, chegando a galáxias e planetas distantes. :D Pelo menos meus sonhos são criativos, vai.
É assustadora a imprevisibilidade, mas eu sobrevivo. Sempre.

Dessa vez era um elevador de um prédio bem antigo, meio decadente, daqueles com porta de ferro. E o danado não subia na vertical, tinha um circuito todo sinuoso que incluía até alguns loopings no caminho. A la Playcenter. Doideira...

Mas o que me marcou nesse sonho é que ele se juntava a um outro pesadelo também recorrente.

Eu acabava de me mudar para uma cobertura, que ficava numa altura absolutamente inviável para qualquer prédio de qualquer praia brasileira. Alta até para Manhattan antes de 11 de setembro. Vertigem, again. Não bastasse o elevador psicodélico.

Chovia muito, como estava chovendo por aqui há dias atrás. E o mar, de ressaca, começou a invadir as ruas da cidade. A rua onde eu morava. A garagem do prédio. Apavorada e incrédula, eu agradecia o fato de estar vendo as coisas lá de cima, mas me desesperava com a possibilidade de uma clausura compulsória até sabe lá deus quando essa catástrofe durasse.

Bom, de tsunami eu tenho medo mesmo. Medo não, pavor.

Eu ouvi uma vez, quando criança também, que o mar da praia grande tinha chegado à avenida da praia em uma ressaca. Pronto. Dali pra frente a imagem povoava meus sonhos, pesadelos. Eu estava na casa (então) dos meus avós, a onda chegava aos poucos, de mansinho. Sempre de mansinho. Mas constante e volumosa, a água ia invadindo tudo.
Descontrole, de novo.
E pior, da "natureza".

Elevadores e tsunamis. Tecnologia e natureza, dicotomia que me persegue (ou será que sou eu que a persigo?).
O mundo que escapa da previsibilidade. A máquina que sai do controle e faz o inesperado, a imensidão desse planeta água que com um mero desequilíbrio pode devastar grande parte da população humana. Do nada. De um terremoto ou meteoro cometa o que seja. Catástrofe, caos. Me lembra que eu estou viva e que posso não estar mais. Ou pior, que as pessoas que eu amo podem não estar mais. E de uma vez.

Mas, uma querida amiga me tranquilizou: Não vai acontecer. Mas, se acontecer, você saberá o que fazer. Porque tem coração.

segunda-feira, 31 de março de 2008

segunda-feira, 24 de março de 2008

Presidentes e Amantes


Quase clipping, vou me abster de comentar por falta de tempo. Mas sugestivo pra uma manhã chuvosa de segunda-feira...


FOLHA - Os eleitores levam em conta o comportamento sexual do candidato?
TALESE -
Não acho que faz diferença nenhuma desde que não se relacione com seu trabalho. John Kennedy foi um presidente muito bom e tinha amantes. Bob Kennedy, seu irmão, tinha amantes. Eram casados e tinham amantes. Lyndon Johnson tinha amantes. Eisenhower. Todos nossos bons presidentes tinham amantes. O presidente Richard Nixon não tinha amantes e foi um presidente ruim. Esse cara, George W. Bush, é um presidente ruim. E não tem amantes. Entende? Bill Clinton foi muito bom e teve. Os piores presidentes são os que não tiveram amantes. Nixon foi o pior de todos os tempos. E Bush é o segundo pior. Se Bush tivesse amantes, talvez não estaria matando tanta gente no Iraque e tendo essa politica de destruir a vida de tanta gente.

FOLHA - O senhor quer dizer que, se a vida sexual de Bush fosse menos comportada, seu governo seria melhor?
TALESE -
Não digo que seria melhor, mas quando você olha... Os bons presidentes não eram pessoas que se "comportavam" sexualmente. Martin Luther King tinha muitas amantes. Matin Luther King! Nós temos um feriado para ele, ele é um herói nacional. E tinha muitas amantes. Muitas. Ele era um cara mau? Não, não era.

segunda-feira, 17 de março de 2008

cortinas de água

Prenúncio do equinócio: começaram as chuvas.

Acabei de ouvir, e sentir, pela primeira vez na Terra de Maria Bonita, uma mensagem de Thor.

sexta-feira, 14 de março de 2008

imagens aos poucos







Bateu de novo a verbofobia. É que também ando trabalhando que nem gente grande....

Vão então algumas fotos de janeiro, em Penedo.

segunda-feira, 3 de março de 2008

R-E-S-P-E-C-T

Ando meio cansada de certas coisas.

Embora tudo no paraíso das águas continue como se nada de diferente se passasse, o noticiário político quer fazer crer que a coisa por aqui está pegando. Eu confesso que tem me incomodado a confusão desavergonhada entre público e privado. As vaidades... e, meu deus, um patriarcalismo que seria tão anacrônico se o tempo fosse mesmo linear e se não tivesse ancorado no espaço... nos lugares...

Daí o "doutor" diz que "Política é para malandro. Não tem espaço para homem de bem". Claro, "homem"... ai ai ai... o que sobra pra gente fazer nesse mundo então?

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Please forgive my blues


Eu parei de cantar porque tive que tirar da minha vida meus sonhos, ilusões e loucuras. E esse foi com certeza o dia mais infeliz de todos. Porque foi ali que eu deixei de acreditar em mim também, que tive que me despedir da força do som que saía não só do meu coração, mas de todo o meu corpo. Das melodias que tocavam todos os poros, das vozes múltiplas, afinadas, lindas... que se transformavam naquela transcendência que fazia o mundo parecer valer a pena. As músicas, que fazem os corações se apaixonarem perdidamente mas que também apunhalam quando traduzem as dores humanas. As dores de amor.

O meu silêncio desde então é de medo de nunca vir a ser. De ser um castelo de cartas que desmorona com qualquer tremor. E a terra não é firme. Nunca será? E a correnteza estava mesmo para o lado errado naquele dia. Era provavelmente o vento, dizendo para o rio não ir para o mar. Mas ele, mais forte e mais profundo, deixou-se levar paciente e superficialmente até poder voltar para seu curso. Hoje, parece que está. Calmo e sereno continua correndo para desaparecer na imensidão das águas salgadas. Mas eu... eu continuo nadando contra a correnteza, e tenho muito medo de não conseguir mais nadar. Não consigo me transformar em peixe, e continuo sem saber o que eles fazem: se se deixam levar, se cansam, se se deixam morrer.

Eu fujo agora de músicas felizes, mas eu sei que elas me esperam para quando eu estiver pronta.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Então

Então...
A Maria Bonita que se fôda.
Desolée.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Mas Eu

Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem —
Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água.

Álvaro de Campos

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

São Francisco

Venta muito e as cortinas azuis dançam sem parar. Não fecho as janelas porque está quente e a vista do rio é encantadora. Não posso pedir ao vento que pare, ele não me ouviria. Ou ouviria? Ou eu precisaria acreditar que ele me ouviria? Enfim, faz calor. Nem quero que pare no fim das contas.

Eu vejo a forte correnteza. Não tenho vida de marujo, nem de ribeirinho, mas me parece que o rio corre para o lado errado. Como me parece, às vezes, que a vida faz também. E a gente, peixinho, como faz para viver sem brigar com a água quando sente que ela te leva para o lado errado?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

...


Pablo Picasso, Auto-retrato, 1972

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Para as Marias Bonitas

De volta à terra de Maria Bonita, vários graus centígrados a mais, e quase nada de chuva.
Já fui visitar o atlântico e pedir benção ao sol...

E enquanto me readapto pela enésima vez a várias coisas, lembro com saudades desses últimos dias que passei pela terra que eu deveria chamar de natal.

Foi, claro, tempo de muito trabalho, pesado, mas também de reencontros e momentos muito especiais. De conversas, risadas, do que minha querida anfitriã chamou, com muita propriedade, solidariedade feminina.

Esse post é pra vocês, minhas amigas, marias e bonitas, que me fizeram sentir viva, querida, muito feliz e bem acompanhada nesses últimos dias. Os também muito queridos, embora menos numerosos, lampiões, que me perdoem o momento luluzinha, carrie bradshaw.

Mas é isso mesmo... sem vocês, meninas, companheiras, de sangue ou de coração, não teria a menor graça!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Reino Encantado

Nesse momento há muita música na minha vida.


A semana foi intensa. Tem sido... Tive um dia chuvoso e preguicento na biblioteca do ifch ouvindo Aretha Franklin, doida pra dançar. Mas fiquei bem comportadinha, estudando...

Ao mesmo tempo, me sentia uma caipira deslumbrada com o volume de coisas legais que tem ali. Ou, sei lá, uma quase ex-aluna orgulhosa e saudosa...

Fazia um tempo que eu não saía fuçando pelas prateleiras. Minhas últimas visitas tinham sido cirúrgicas... Mas o tempo que teima em voar e no final das contas há muitas novidades.

Aquilo está que não cabe mais nada, de tanto livro.

"N" versões do Alcorão ao alcance das minhas mãos (não que eu tenha interesse, mas enfim... poderia ter), toda a parafernália sobre islamismo e assuntos afins, Nietzche em alemão, lido, pra ser recolocado na prateleira. Carros e carros de livros novos para serem catalogados.

Aqueles clássicos dos cursos introdutórios, deliciosos e divertidos. Mauss, Durkheim, Lévi-Strauss... Margaret Mead, Evans Pritchard. Ai, que saudades que deu disso tudo...

E fiquei pensando, como agora estou tão longe, o quanto este espaço é importante, precioso.

Não que agora eu esteja querendo resolver as crises de todo mundo (rs... vide post anterior), até porque eu mesma vivo em crises, várias. Mas sabe aquela de fim de tese? Pra quê tudo isso que eu fiz? Vai virar mais um livrinho só no meio daquela infinidade de coisas, aquela enormidade de possibilidades que é uma biblioteca. E a sensação de que precisaríamos de muitas outras vidas pra dar conta de ler tudo o que a gente gostaria. E de que no máximo dez pessoas vão ler aquilo que você suou tanto pra escrever, e olhe lá (apud Amores Parisienses, pra quem não viu). E, pior, depois de gastar sua juventude ali, você será muito em breve expulsa(o) do Reino Encantado Zeferino Vaz (como dizia uma professora, embora falasse da década de 70 - ainda vale, eu acho) como Adão e Eva do paraíso, embora sem a maçã (ou não... rs...).

Mas enfim. Pra essa crise, minha sensação e meu manifesto é quase religioso, devocional. Esse espaço TEM que existir. Ele é belo, é sagrado. É um oásis nesse mundo selvagem que não deixa a gente parar pra pensar nele.

Claro que a universidade que vejo hoje é outra daquela que conheci quando entrei. Beeeem diferente. Lacraram o observatório, acabaram com as festas, as disciplinas Cantina I e II (:D), a sociabilidade acadêmica foi sendo privatizada, e o Bar do Jair agradece. Porque ali não é espaço para essas vulgaridades. Criminalizam o movimento estudantil e até as barricadas na verdade nada interessante por ali acontecia. Nossa "geração" (se é que isso existe) é apática e pessimista. Sem falar na relação entre professores e alunos, que era pra ir se dissolvendo com a passagem dos anos de formação acadêmica, mas que agora virou um toma-lá-dá-cá-defende-logo-e-some-daqui, que pelamordedeus.

Ainda assim, a universidade em si é um espaço maravilhoso. Passar por ela (demoradamente... rs...) foi com certeza a melhor coisa que poderia acontecer na minha vida. Que me transformou em algo mais próximo daquilo que eu queria ser. Que eu quero...
Por isso, queridos e queridas, continuo insistindo no otimismo. Ainda que cético, e talvez por causa disso muito alienado (mea culpa)... otimismo...

Um viva ao Reino Encantado Zeferino Vaz.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Don't stop me now

Queridas e queridos que me perdoem a verbofobia.
A vida anda intensa, e 2008 veio com tudo.
Na verdade tenho alguns assuntos em mente, pendentes.
Contar das minhas viagens pela terra de Maria Bonita, ou do inverno campineiro em pleno verão. Meus sentimentos e impressões sobre processos seletivos...

Mas esse pré-post é pra minha irmãzinha e sua ultra precoce crise dos 30.
Digo pré porque "se pá" o assunto volta. Com um pouco mais de inspiração porque hoje tá meio difícil... rs... mas enfim.

Queria dizer que, apesar do pânico do tipo "eu-tô-com-30-e-ainda-não...", ou de todas as frustrações que podem pintar, minha sensação aos 30 e poucos é de que tudo tão melhor! Tão mais certo, mais fácil e divertido.
Os problemas são só problemas e não o fim do mundo, e o mundo já é aquela viagem que a gente conhece um pouco melhor, sabe o que vale e o que não vale a pena. As pessoas enganam e machucam menos.

Bom, claro que é a minha impressão... sei lá... eu tô feliz...
E queria deixar essa nota otimista, com uma certa pretensão de sobriedade. Cola?

Don't stop me now, I'm having such a good time!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Ano Novo

Que vertigem! Um mês exatamente sem escrever...
Não quis tirar férias do blog, mas estive por aí com muitos de vocês e as palavras ditas e olhares trocados foram muito mais interessantes. De qualquer forma, consumiram meu tempo e foi tudo muito bom.
Mas a minha parte favorita das viagens é mesmo a volta. Apesar das despedidas...
Tenho as lembranças, os efeitos felizes das experiências vividas... e a minha casa!
Como é boa a sensação de estar em casa...

O ano começou com muito sol e mar, pessoas queridas por perto, uma lua maravilhosa, fogos de amor, esperança e paz. E eu estou assim, zen, com setecentas mil coisas para fazer... mas zen...

Um feliz ano novo pra todos vocês...