sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
voltando ?
Estou longe de chegar em casa, com um itinerário divertido, revendo pessoas queridas e com muitas coisas pra pensar e fazer. Em processo de volta, mas sem nunca chegar.
Estou feliz com os reencontros e passeios.
Estive no Rio, agora estou em São Paulo.
Mas hoje bateu um cansaço.
Choveu muito, está nublado e eu fico triste, com saudades do sol.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
O Taxista e Rosas Vermelhas
Carro meio velho, chacoalhava na avenida, que parecia com pneu furado. Cheguei a imaginar o taxista tirando minhas malas do carro para pegar o estepe. Mas era daquele jeito mesmo... e assim foi até o JFK.
O taxista, com sotaque estrangeiro, gostava de conversar. Ele vinha da Jordânia, estava em Nova Iorque há doze anos. Pergunto se pretende voltar, me diz que a vida é imprevisível. Mas que prefere muito mais estar ali do que na Europa.
"Aqui, podemos ser americanos. Na Europa nunca seremos europeus."
Relata, ressentido, a vez em que lhe recusaram a venda de um copo de cerveja na Alemanha.
"Aqui, não servimos pessoas da sua cor", a garçonete lhe teria dito.
Depois de me explicar com detalhes, e ainda inconformado com o preconceito da garçonete, a formação étnica e política dessa região da Alemanha à qual se referia, descubro que este gentil senhor é Bacharel em História Européia!
Esta mesma pessoa, taxista, feliz por levar e trazer pessoas pelas ruas e aeroportos de Gotham City. Que não quer ir embora...
Pergunto o que ele acha da situação dos imigrantes pós 11 de setembro. E ele me conta, também desapontado, que há algumas semanas passara por uma blitz e levara três multas. Uma delas por desacato à autoridade, porque não teria se conformado com o fato de que, antes de pedir para ver a sua licença para dirigir, o guarda lhe perguntara de onde ele era.
"O que importa de onde eu sou? Ele estava ali para ver meus documentos de motorista, e não para perguntar de onde eu vim!"
E ainda por cima o guarda teve a audácia de achar que ele era egípcio. E não sabia sequer ao certo onde ficava o Egito e a Jordânia. "Vá estudar Geografia, meu amigo!", pensou, irado. O caso foi rapidamente para a justiça. Semana passada tudo já estava resolvido. O juiz, com um mínimo de sensibilidade, o dispensou das multas e deu uma bronca no guarda de trânsito.
Para fechar minha viagem com chave de ouro, na fila do check in, noto um rapaz com comportamento estranho. De boina, cabeça baixa, combinava um encontro com alguém rapidamente pelo celular. Não que eu tenha desenvolvido essa habilidade de observar, preocupada, comportamentos estranhos. Mas são os ossos do ofício. Afinal, sou antropóloga.
Me distraio por alguns instantes, quando vejo uma movimentação de pessoas, surpresas e felizes, em frente ao balcão de check in. O rapaz, agora sem a boina, estava ajoelhado perante uma bela jovem, em prantos. Nas mãos, uma caixinha com, concluo com nenhum mérito excepcional, um anel de noivado. Ele lhe falava várias coisas, e ela chorava, chorava. Incrédula. E eu, a essas horas, também. Eu e uma parte das pessoas que estavam no saguão do aeroporto. Todos seus amigos e familiares. Com rosas vermelhas. E a cada pessoa querida que a bela funcionária da empresa aérea reconhecia entre a multidão, depois de aceitar o pedido de casamento do seu namorado, ela chorava, feliz por compartilhar com eles aquele momento tão lindo e especial. O rapaz da boina, com cinquenta quilos a menos nas costas, apenas observava, sorrindo satisfeito.
Por minutos, o atendimento da American Airlines parou. E ninguém reclamou.
Para o amor e suas loucuras, todas as concessões.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
In between
Mas não vou escrever sobre isso. Vou fugir das despedidas, como prefiro fazer.
Andei bastante pela cidade hoje, o dia em que a árvore de natal do Rockefeller Center foi acesa. Grande festa, muitas pessoas nas ruas, trânsito desviado e, claro, caótico.
Cada quadra, casa, rua, cada pessoa que passeia com seu cachorro, cada janela, vitrine ou mesmo cada rosto me encanta e surpreende. Tem muito, de tudo. E muita beleza. E muita riqueza, riqueza demais, pelo menos para quem vive onde eu vivo.
Abismo.
Voltando para "casa" pelo metrô pensei, mais conformada, de que o que de fato me incomodava no metrô não era somente a ausência da paisagem da cidade. Algumas estações são até bem simpáticas. O que me incomoda, sim, é a recusa das pessoas em reconhecer aquele lugar naquilo que ele é. Ou, a sua existência neste lugar. Este caminho como real, como paisagem, como vida. O metrô é um espaço que não "conta", um limbo entre a origem e o destino. Os MP3/4, IPods, Games, jornais ou livros e as pálpebras fechadas são as ferramentas para a desconexão temporária com aquele lugar, concreto, onde se está. Onde todos estamos, por um momento, mesmo que com itinerários diferentes.
Pois bem, dito isto, duas coisas me encantaram no metrô.
A primeira foram os músicos, diversos, que transformam o barulho dos sapatos e o silêncio dos pensamentos nas estações.
A segunda são aquelas pessoas, maravilhosas, que falam sozinhas. Vi várias e há boas chances de que eu tenha sido uma delas em algum momento. Entediada naquela paisagem adorada por baratas (argh), de vez em quando eu me via sorrindo ao perceber um companheiro ou companheira de viagem discutir mentalmente com alguém, concluir algum pensamento importante, franzir a testa e fazer que não com a cabeça, sorrir, feliz (raro, mas aconteceu), cantar (ontem, um rapaz com uma partitura sentou ao meu lado), conversar (nos casos pouco frequentes de pessoas que andam acompanhadas).
Devo dizer, devo a essas pessoas a certeza da minha existência, naquele tempo e lugar. Embora eu também tenha aprendido a ler, ouvir música e cochilar.
Ao subverter a regra social número um para espaços urbanos de grande circulação (silêncio, discrição, inexpressão e distância do outro), elas me ajudaram a lembrar que não é somente o destino que interessa, mas também o caminho que se percorre.
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Simulacros
Bem, vamos às coisas boas. Hoje fui à Morgan Library, maravilhosa.
Reencontrei Van Gogh, e conheci uma das bibliotecas mais lindas que eu já vi. Além de ver de pertinho o exemplar da primeira edição da Bíblia, de Gutenberg (1455), entre outras relíquias interessantes.
Vi mais um pôr-do-sol inesquecível, do topo do mundo, ex-refúgio do adorável King Kong.
Respirei fundo, atravessei a Times Square (fotos abaixo) e fui ao Madame Tussaud. É impressionante. Confesso que eu estava com receio. Morria de curiosidade mas ao mesmo tempo achava muito esquisito esse negócio de imortalizar uma figura num boneco de cera. Sempre achei bonecos, todos, meio assustadores. Na sua similaridade conosco. Fico esperando eles piscarem, se moverem, ou algo do gênero. Que sua humanidade e sua vida de repente apareçam.
Ir sozinha não tem a menor graça, o lance todo da coisa, me parece, é interagir com as figuras e registrar a palhaçada. A foto que tirei fazendo chifrinho no Bill Gates não saiu boa, e além disso encano de botar fotos minhas no blog. Então vou presenteá-los com a da Janis.
E a Times Square. Diz se não é over!
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Farewell Sleepy Hollow
Lua quase cheia ainda, TPM, inferno astral e contagem regressiva para meu retorno. Sem falar no meu sangue latinuu. Existam ou não todas essas coisas e suas influências sobre nós, hoje eu estava especialmente nostálgica e sensível.
Os funcionários queridos do arquivo vieram se despedir de mim... acostumaram-se com a minha presença nessas últimas semanas e acompanharam minha pesquisa. Uma equipe muito competente, comprometida. E atenciosa, respeitosa, muito muito legal. Que coisa, só vou levar lembranças boas daqui...
A pesquisa, não acabou. Eu diria que agora na verdade seria ainda melhor recomeçá-la. Quem sabe não terei outra chance em breve, dedos cruzados.
Bem, como prometido, então, antes tarde do que nunca, um trecho do começo de “The Legend of Sleepy Hollow”, Washington Irving. Meio longo, talvez, mas não resisti.
In the bosom of one of those spacious coves which indent the eastern shore of the Hudson, at that broad expansion of the river denominated by the ancient Dutch navigators the Tappan Zee, and where they always prudently shortened sail and implored the protection of St. Nicholas when they crossed, there lies a small market town or rural port, which by some is called Greensburgh, but which is more generally and properly known by the name of Tarry Town. This name was given, we are told, in former days, by the good housewives of the adjacent country, from the inveterate propensity of their husbands to linger about the village tavern on market days. Be that as it may, I do not vouch for the fact, but merely advert to it, for the sake of being precise and authentic. Not far from this village, perhaps about two miles, there is a little valley or rather lap of land among high hills, which is one of the quietest places in the whole world. A small brook glides through it, with just murmur enough to lull one to repose; and the occasional whistle of a quail or tapping of a woodpecker is almost the only sound that ever breaks in upon the uniform tranquillity.
I recollect that, when a stripling, my first exploit in squirrel-shooting was in a grove of tall walnut-trees that shades one side of the valley. I had wandered into it at noontime, when all nature is peculiarly quiet, and was startled by the roar of my own gun, as it broke the Sabbath stillness around and was prolonged and reverberated by the angry echoes. If ever I should wish for a retreat whither I might steal from the world and its distractions, and dream quietly away the remnant of a troubled life, I know of none more promising than this little valley.
From the listless repose of the place, and the peculiar character of its inhabitants, who are descendants from the original Dutch settlers, this sequestered glen has long been known by the name of SLEEPY HOLLOW, and its rustic lads are called the Sleepy Hollow Boys throughout all the neighboring country. A drowsy, dreamy influence seems to hang over the land, and to pervade the very atmosphere. Some say that the place was bewitched by a High German doctor, during the early days of the settlement; others, that an old Indian chief, the prophet or wizard of his tribe, held his powwows there before the country was discovered by Master Hendrick Hudson. Certain it is, the place still continues under the sway of some witching power, that holds a spell over the minds of the good people, causing them to walk in a continual reverie. They are given to all kinds of marvelous beliefs; are subject to trances and visions, and frequently see strange sights, and hear music and voices in the air. The whole neighborhood abounds with local tales, haunted spots, and twilight superstitions; stars shoot and meteors glare oftener across the valley than in any other part of the country, and the nightmare, with her whole ninefold, seems to make it the favorite scene of her gambols.
The dominant spirit, however, that haunts this enchanted region, and seems to be commander-in-chief of all the powers of the air, is the apparition of a figure on horseback, without a head. It is said by some to be the ghost of a Hessian trooper, whose head had been carried away by a cannon-ball, in some nameless battle during the Revolutionary War, and who is ever and anon seen by the country folk hurrying along in the gloom of night, as if on the wings of the wind. His haunts are not confined to the The Legend of Sleepy Hollow valley, but extend at times to the adjacent roads, and especially to the vicinity of a church at no great distance. Indeed, certain of the most authentic historians of those parts, who have been careful in collecting and collating the floating facts concerning this spectre, allege that the body of the trooper having been buried in the churchyard, the ghost rides forth to the scene of battle in nightly quest of his head, and that the rushing speed with which he sometimes passes along the Hollow, like a midnight blast, is owing to his being belated, and in a hurry to get back to the churchyard before daybreak.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Thanksgiving
Pra eles aqui, é sobre agradecimento, família e peru (na quinta) e compras de natal nos saldos (na sexta).
Agradecimento pela primeira colheita, o que na prática hoje poderia ser pensado como um agradecimento pela grana que será torrada na manhã (madrugada) seguinte.
Eu pulei a primeira parte... eheheh...
Mas no fim das contas, pelo menos para mim, a moral da história é a mesma de sempre, uma eternidade para ganhar ($$$) e segundos para gastar...
O tempo e o dinheiro se foram e já me vejo planejando meu retorno, nessa semana que vem. Muita coisa não conseguirei fazer, o que é ótimo, porque me obriga a voltar.
Mas embora esteja morrendo de vontade de voltar pra casa, começou a bater uma tristezazinha de deixar este lugar e todas as coisas que eu poderia fazer por aqui... E viva a ambiguidade!
Uma foto do céu de Manhattan pra vocês.
Beijos e boa semana...
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Outros encontros e desencontros
E eu definitivamente me sinto muito como a mocinha do Lost in Translation. All the time, everywhere.
Está corrido e difícil parar para postar. Mas agora minha vida vai ser menos Sleepy Hollow.
Resolvi entrar na onda e planejo um dia de compras na Black Friday. Afinal de contas, até agora camelei demais, e o resultado é que acabei fazendo uma pequena poupança. Sintomático não? Estou começando a entender o espírito da coisa, acho. Pior que, aqui, até funciona.
Enfim, vou passear também, claro.
Assim que der escrevo de novo.
Pra quem não viu, tem fotos novas mais abaixo.
Saudades de todos... Beijos...
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Snow
Fiquei encantada. Fotos abaixo!!!
Estou no meio da viagem, e comecei a sentir um certo anthropological blues.
Encanto por estar em um lugar tão lindo e diferente, mas ao mesmo tempo a sensação de deslocamento e não pertença. Bem, também pode ser que seja o inferno astral.
De qualquer forma, hoje quando saí do trem o céu me esperava com uma chuva sólida... rs... Demorei alguns segundos para me dar conta, emocionada, de que nesta segunda-feira nublada e preguiçosa nevava em Tarrytown.
domingo, 18 de novembro de 2007
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Janelas
Eu acho que ainda não consigo entender direito o tempo, no sentido climático, por aqui. Ontem à noite estava bem quente, mas ao mesmo tempo o dia inteiro foi bem nublado... o que em São Paulo significa que vai esfriar. Hoje amanheceu chovendo bastante, mas não estava frio como na semana passada.
Nunca chega a ser aquela chuva molhada das nossas frentes frias de inverno, muito menos as tempestades devastadoras de verão (que, aliás, neste ano, chegaram cedo em Campinas... e estavam fazendo um estrago considerável).
Hoje, a arquivista da manhã me colocou numa mesa que tem uma bela vista para o jardim, para as árvores que a cada dia ficam mais, e menos, amarelas. Quando paro por alguns instantes para pensar e descansar meus olhos, me deparo com uma paisagem que está em constante modificação. Isso me faz sentir vontade de viver em um lugar com estações demarcadas. Os efeitos são fantásticos para corações românticos como o meu...
Bem, consegui acabar um projeto importante neste minuto, que estava consumindo toda minha atenção e energia... e, de repente, quando olho para fora, está um vento até então inexistente, fazendo chover à minha frente as folhas douradas das belas árvores de Sleepy Hollow. E com isso me convenci de que o mundo também percebe a passagem do meu próprio tempo.
Ah, sim, queridos, estou na terra da lenda do cavaleiro sem cabeça... mas isso fica para um futuro post...
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Tópicos Avançados
Já consigo cochilar no metrô.
Mas não é nada perto do que vi esta manhã: uma mulher, trabalhando com dois cadernos, repletos de post-it's, passando informações para um terceiro. E... tchã-rã... segurando o copo de café com a boca!!!! Unbelievable. Acho que nem com cinquenta anos de metrô eu conseguiria uma proeza dessas. rs...
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Pictures
Nature and Culture
Além de ser lindo demais, é uma maravilha sentar sob o sol nesses dias frios que têm feito.
É que o resto todo tem parecido, como eu disse há pouco, a little too much.
Tenho fugido também dos grandes museus, por enquanto.
Domingo ainda... estavam uma loucura... ônibus lotados descendo nas portas...
Mas, bem, fazerei uma concessão, obrigatória, à cultura.
Passeei ali pela 5a Avenida, no Museum Mile... Muito agradável.
E meu fim da tarde foi emocionante. Como nunca estive na Áustria...
Fui à Neue Gallerie onde há no momento uma exposição de Gustav Klimt.
Maravilhosa! Fascinante, é incansável olhar para suas obras.
Vários ensaios, fotografias pessoais, uma réplica do seu atelier.
Metropolis
Fui trabalhar na SIBL, parte da biblioteca pública de NY.
Em frente ao Empire State Building. Lugar incrível.
E público. O que é mais incrível ainda.
Não me perguntaram nada, não pediram documento nenhum, simplesmente o material que eu havia solicitado por email estava reservado para o meu sobrenome, e pronto. Peguei, fui para o leitor de microficha e passei a tarde toda ali, relendo aquele "evento" de 1978.
Você compra seu cartão de cópias, carrega com o tanto em dinheiro que você acha que vai precisar, e você mesma faz as suas cópias. Simples, independente e , em tese, eficiente.
A menos quando acaba o toner da impressora em pleno sábado à tarde, quando os técnicos de informática parecem estar de folga.
Aconteceu ao meu lado, com uma senhora sósia da Marta Suplicy. Botox included.
Saí de lá no sábado à noite, as ruas lotadas.
Me dou conta de que esses últimos vinte anos da minha vida me transformaram numa autêntica caipira. Quanta gente! E as luzes da cidade, prédios inteiros, iluminados. Olho embasbacada pra tudo isso. Nem parece noite, a luz irradia dos andares incontáveis dessa cidade vertical.
Todo mundo comprando alguma coisa, uma loja é mais tentadora que a outra. Numa só quadra Zara, H & M, Banana Republic, GAP, Victoria's Secret e eu começo a me lembrar como é achar que você pre-ci-sa de tudo aquilo.
E parece tudo tão acessível... todos têm uma ou outra sacola. Ou várias.
E aí me lembro das crianças pedindo para comer os restos de tapioca na orla da cidade onde eu, realmente, vivo. E alguma coisa dentro de mim colapsa.
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Déjà-vu
Até que ponto o lugar define a pessoa? Estive pensando nisso esses dias. Em como estar aqui alterou substancialmente não somente meu dia-a-dia, mas eu mesma.
Tenho observado algumas coisas, alguns hábitos locais. Por exemplo, o esquema “to go”. Uma coisa que, na minha opinião, não funciona conosco, no Brasil. Não tem essa de comer andando, ou no metrô, ou no trem. Bem, considerando ainda que não temos metrô nem trem na maioria das nossas cidades... Mas é impressionante a rapidez das filas nos cafés e deli's, e todos os aparatos que se criam pra atender os clientes apressados. Os copos de chás, cafés, a tampinha preparada pra você abrir e ir tomando no caminho, sem espirrar, a proteçãozinha para você não queimar os dedos com a quentura do copo (já a língua é por sua conta... rs... por mais prudente que eu tenha tentado ser, saber quando já “dá” é uma habilidade que ainda estou desenvolvendo...), os saquinhos de papel nos quais tudo é embalado para viagem. É divertido.
No arquivo, me vi de repente transformada em uma autêntica workaholic. Tá certo que tenho pouco tempo, muito material para ver, e decisões importantes para tomar com relação a isso nos próximos dias. Mas estou trabalhando loucamente, estimulada pela extrema competência dos arquivistas que me acompanham. Tudo que eu pensava em fazer mais para o fim do mês estou tentando encaixar nos próximos dias, para ver se consigo ampliar ainda mais o alcance da pesquisa no arquivo. Tom, um arquivista aposentado que trabalha dois dias por semana lá, voluntariamente – aqueles senhorezinhos que sabem absolutamente tudo sobre o arquivo – me passou o telefone de sua casa para que eu diga, no fim de semana, como será a pesquisa de sábado, que farei na biblioteca pública (!!!!). Quando me dei conta do nível de comprometimento da figura, bem, sim, aí veio o choque cultural. E um certo medo de estar alimentando isso. Poxa, o cara está aposentado, né... Não deveria estar nem aí... Mas está.
A equipe de pesquisadores que conheci nesta semana é muito legal. Tem uma alemã, muito simpática e bem humorada, com quem sempre converso. Estuda o museu de arte moderna de NY. Uma americana estudando uma reserva natural em algum estado do noroeste americano, um rapaz de Berlim e um senhor que me pareceu o Sherlock Holmes que eu imaginava quando lia Conan Doyle. Cabelos e barbas brancas, sobretudo, boina quadriculadinha e tudo. Assim que os vi, tive a sensação de que já os conhecera... Que coisa... eles não me eram estranhos... Fiquei encanada com isso. Será porque eles se parecem com alguém, ou será a proximidade acadêmica (todos pesquisadores têm uma “cara” ou um “jeito” específico?), ou algum “tilt” cerebral espaço-temporal. De qualquer forma, todos foram muito compreensivos quando eu, a la Bridget Jones, desastradamente liguei meu computador que havia entrado em hibernação quando eu ouvia música no último volume. O bendito não tem botão externo de volume e, até eu conseguir fazer alguma coisa para parar a música alta que inundava a sempre religiosamente silenciosa sala de pesquisa, eles se divertiram. E não se irritaram, o que prova que são pessoas legais. Inclusive o senhor arquivista, que gentilmente aproveitou a ocasião para solicitar que todos desligassem o toque dos celulares.
Bem, fico por aqui, o trem já se aproxima de Tarrytown. E hoje que deixei o guarda chuva em casa, parece que vai chover...
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
New York, New York
Meu domingo foi ótimo, conheci meus anfitriões que são maravilhosos, apaixonados pela vida, pelos lugares, pessoas e seres.
Passamos pelo Brooklyn e fomos ver o pôr do sol à beira do Rio Hudson, sob a Ponte Verrazano.
Muito lindo. O bairro é super agradável, tranquilo, caseiro.
Manhattan também foi qualquer coisa. Primeiro pela grandiosidade que intimida.
A altura dos prédios e você, no caso eu, com meus míseros 1,58, ali embaixo... é inevitável sentir-se quase nada. Milhões de lojas, infinitos cruzamentos, rostos de absolutamente todas as cores, formatos e expressões.
Entrar na Saint Patrick's Cathedral foi uma experiência única.
Estava muito frio, e a igreja quentinha, silenciosa, gigantesca mas acolhedora, católica bem no meio dessa loucura capitalista toda...
Me senti tão acolhida... e foi quando me dei conta de onde eu estava... ou, quando caiu a ficha. Foi mágico, religioso, talvez.
Fiquei encantada também com o Central Park.
Graças ao aquecimento global, outubro e esse breve comecinho de novembro têm sido mais quentes que o normal. Ou seja, as árvores ainda têm folhas, estão começando a mudar de cor e cair.
É indescritivelmente maravilhoso. No final da tarde, o sol batendo nas folhas amarelinhas... encantador. E ter uma tarde para caminhar por ali, um privilégio.
No Strawberry Fields, construído em homenagem a Lennon, pessoas e flores.
Conversei bastante com um senhor que estava ali sentado com uma plaquinha engraçadíssima: I'm not gonna lie: I need a beer!
Pior que funciona! Não somente as pessoas se simpatizam e tiram fotos, como contribuem para sua causa tão nobre. rs...
Quando o frio chegar de vez este fã dos Beatles, que acredita que Lennon deveria ter sido presidente dos EUA, vai fugir para o sul, como os pássaros. Vai para Key West.
Times Square me pareceu... acho que não há outra palavra: assustadora.
Tudo aquilo que a gente vê nos filmes de ficção científica. Mas em três dimensões e com milhões de pessoas esbarrando em você.
Para mim, que andei circulando pelos vinhedos do interior paulista e que me encontrei há tão pouco tempo com as terras e as herdeiras de Maria Bonita, aquilo ali é um pouco demais.
Eu não sei, mas fiquei com a impressão de que "agora eu entendi tudo".
Depois de andar pela Times Square, totalmente "over".
O arquivo onde estou trabalhando desde terça (ontem) é o sonho de qualquer pesquisador.
Levo duas horas e quatro trens para chegar até ele.
Aliás, parênteses. A única coisa que me incomoda nisso é ficar percorrendo os subterrâneos... Acho sufocante, claustrofóbico. E feio demais, com exceção da hora em que o metrô dai do Brooklyn para entrar em Manhattan pela ponte, que é muito lindo. Não pude ainda, como faz a maioria, me desligar do "lugar" com um livro, música ou algo do gênero, como dormir também. rs... Mas, agora que comecei a entender o percurso, isso me parece inevitável.
Não gosto de pensar no "perigo" dos ataques terroristas, mas ele está estampado em todos os lugares: se você vir alguma coisa, diga. Aprenda os procedimentos de emergência. Se você trabalhou no WTC depois do 9/11 e se sente doente, você tem direito a uma compensação. Etc, etc, etc. E latinos, chineses, ucranianos, russos e tantos imigrantes cruzando a cidade pelas suas entranhas. Tantos sotaques...
Mas, enfim, voltando ao arquivo. É um casarão lindo, de pedra, construído pelos Rockefeller. Fica num lugar chamado Tarrytown, uma cidadezinha a 20 milhas de nova Iorque. A viagem de trem vai seguindo o curso do Hudson. É linda, linda, ainda mais num dia de sol como hoje. Tarrytown, assim como boa parte do vale do Hudson, é cheia de mansões com jardins enormes.
Além de ser em um lugar lindo, o atendimento é impecável, e o material, super interessante... Riquíssimo... Está sendo muito produtivo.
Assim que eu puder colocarei fotos. E escreverei mais.
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
A terra vista do céu
E de repente me vi dormindo a trinta e tantos mil pés.
Acordo assustada... que coisa esquisita que é dormir no céu, em movimento. Melhor nem pensar demais.
Mas, quase no final da viagem, uma imagem mágica: abro os olhos, olho pela janela e vejo, lá embaixo, ainda com as luzes do começo da madrugada, o desenho da minha universidade.
Tão único, tão repleto de significados, de propostas, de sonhos. A arquitetura concretizando projetos de conhecimentos, interações, circulações. E suas viagens.
De lá de cima eu via aquele espaço, que percorri por tantos anos, em tantas direções. Tão distante, mas tão próximo, e significativo para mim.
Eu, que mal me recuperava das emoções da despedida, sempre difícil e sofrida... me reencontrava, do céu, com este lugar, meu lugar, mas do qual tenho me aproximado e distanciado, em vários sentidos. Olhar para ele, assim, do céu, foi diferente, não só pela perspectiva, como pelo meu olhar mesmo, que já é outro. Assim como chegar aqui, onde foi a minha casa.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Estações
Prenúncio do tempo, das estações, que andam meio atrasadas e desbaratinadas, mas que ainda mostram a que vêm, quando chegam.
Estou me preparando para partir.
Conhecer lugares novos. O mundo é tão vasto e a vida, tão rápida... que não há outra alternativa a não ser deixá-la nos levar para onde as coisas acontecem.
E eu, estou indo para o olho do furacão.
Estou feliz pelo que vem, mas triste por deixar a minha casa e os meus amores. Sempre é assim.
Mas nesse momento em que planejo o meu verão, e parte da primavera que resta e que será na verdade outono, eu repenso o ano que passou, mesmo sem ele ter passado ainda.
É, talvez, por causa da minha partida coincidente com essas datas importantes. E o que virá pela frente. Dezembro, mês do meu aniversário, é sempre aquela fase em que todos falam, meu deus, natal, esse ano voou. E olham para ele tal qual as pessoas para o pôr-do-sol. Mas também que se encontram, se amam, se curtem e curtem a vida.
Esse ano foi certamente um dos mais difíceis da minha vida.
Pelas mudanças e suas consequências, pelos cabelos brancos que se multiplicaram, pelos desesperos, tantos, que por vezes eu deixei me inundassem.
Mas é agora, às vésperas de colocar minhas coisinhas dentro da mala e partir, que eu olho para esse lugar, suas paisagens, pessoas e as minhas lembranças... e me dou conta do quanto foi bom estar aqui. Respiro. E que continue sendo, sempre, porque claro, eu devo voltar.
Do navio de Lévi-Strauss
"Eis por que os homens prestam mais atenção no sol poente do que no sol nascente; a aurora só lhes fornece uma indicação suplementar às do termômetro, do barômetro e - para os menos civilizados - das fases da lua, do vôo dos pássaros ou das oscilações das marés. Ao passo que um pôr-do-sol eleva-os, reúne misteriosas configurações as peripécias do vento, do frio, do calor ou da chuva nas quais seu ser físico se debateu. Os caprichos da consciência podem também ser lidos nessas constelações algodoadas. Quando o céu começa a se iluminar com os clarões do poente (assim como, em certos teatros, são as bruscas iluminações do proscênio, e não as três pancadas tradicionais, que anunciam o início do espetáculo), o camponês suspende sua caminhada pela trilha, o pescador retém seu barco e o selvagem pisca o olho, sentado perto de um fogo declinante. Recordar-se é uma grande volúpia para o homem, mas não na medida em que a memória se mostra literal, porque poucos aceitariam viver novamente as labutas e os sofrimentos que, no entanto, gostam de rememorar. A recordação é a própria vida, mas com outra qualidade. Assim, é quando o sol se abaixa sobre a superfície polida da água calma, tal como o óbolo de um celestial avarento, ou quando seu disco recorta a crista das montanhas como uma folha dura e denteada, que o homem encontra por excelência, numa curta fantasmagoria, a revelação das forças opacas, dos vapores e das fulgurações cujos obscuros conflitos, no fundo de si mesmo, e ao longo de todo o dia, ele vagamente percebeu."
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
I can't surf
Em contrapartida à minha falta de perspectivismo no post anterior...
Em homenagem ao Juca, com saudades do seu jeitão fofo.
E pra dizer que ontem decidimos que, pela primeira vez, Filó poria as patas no Atlântico.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Pôr do sol
Não sei se é meu signo, apaixonado, ou herança (não genética, que fique claro) da minha avó, mas para mim a vida tem uma intensidade gigantesca.
A cada dia que nasce, eu sinto um frio na barriga... Estou viva! Estou aqui, em mim mesma, neste lugar. Todos os dias, em algum momento, eu penso nisso.
Ok, talvez essa sensação seja mais presente e ainda mais forte porque me dou conta que estou, nesses últimos tempos, muito só. E um pouco fora daquele cotidiano que engole nosso tempo, nossos sonhos e desejos, nossos pensamentos. Estou aqui.
Mas, de qualquer forma, fico pensando se sou eu que exagero ou se são as outras pessoas que minimizam demais... rs... minha terrível mania de querer estar sempre certa...
Ontem fui caminhar com Filó pela orla e vi um entardecer maravilhoso.
As cores e a profundidade do mar, a cidade anoitecendo devagar.
Navios enormes, partindo e chegando, brilhando com a luz do sol que já não se via.
O vento decidido, que arrasta pessoas e suas velas - das mais tradicionais às high-tech-esportes -radicais - pelas águas plácidas, perfeitas, dessa que eu acho é a praia mais linda que eu já vi.
Fascinada, inundada pela intensidade do meu testemunho desse momento, neste lugar, eu sorria simplesmente. Feliz. E olhei para minha pequena companheira, que a-do-ra essas caminhadas e hoje tinha até corrido um pouco comigo (!).
E pensei, um pouco melancólica, na hora: está aí o limite entre natureza e cultura. Eu não posso pegá-la no colo e dizer: não é maravilhoso tudo isso, querida?, que ela não compreenderia. As nuances das cores, a interação vento-vela-água-prancha-humano, o sol e a lua, o "eu"...
Mas hoje, aqui, escrevendo e repensando, lembrando da sua felicidade, pura e simples, por passear, ali, comigo... e considerando a minha dificuldade em reproduzir com palavras a minha experiência de ontem - principalmente, claro, pela minha limitação poética, rs - fiquei cá com as minhas dúvidas.
Até que ponto essa percepção da intensidade da existência precisa da linguagem? que pretensão a minha...
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Festival de Filmes Online
Até 31 de outubro:
http://imaginingourselves.imow.org/pb/Home.aspx?lang=1
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Music and la vérité
Dia desses me peguei encantada por um clip que passava na VH1, a MTV dos trintões.
Ao som da linda música do Snow Patrol, um carro percorre as ruas de Paris até chegar a Montmartre. Uma linda moça aguardava o motorista na sua escadaria. Pelo bonde que cruza o caminho, as centenas de carros antigos e a franjinha loura, visivelmente não era a Paris atual... Inimaginável para a produção de um clip, ou mesmo que fosse um curta, reproduzir tão fielmente um outro tempo, por um espaço tão longo.
Uma pergunta aos oráculos youtube e wikipedia e voilà: trata-se de um curta produzido no ano em que eu nasci, 1976, por Claude Lelouch, na onda do cinema verdade. O rapaz prendeu a câmera de 35mm no pára-choque do carro e saiu dirigindo como doido às cinco da madrugada em um domingo de agosto. Dizem que Lelouch chegou a ser preso por causa da direção irresponsável. O que parece esquisito. Mas enfim...
Na internet, especulações sobre a velocidade percorrida pelo carro (uns malucos fizeram até tabelas, de acordo com o percurso) e, principalmente, sobre qual carro seria - ferrari, mercedes? E se o som que se ouve no curta é o mesmo do carro em questão... Bem, parece que não.
Eu estava em dúvida se postava aqui a versão do clip, ou a original, com o som do carro acelerando. Ou ambas. Mas, depois desse quiprocó do carro, eu decidi que trilha sonora por trilha sonora, eu fico com a mais melódica.
Que vérité que nada!
There is no such thing.
Mas, claro, não deixem de ver o curta :)
http://www.youtube.com/watch?v=lyabObFKp0s
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Lua e Estrela
Com uma covinha avermelhada piscando um pouco abaixo.
E eu voltei olhando para ela e pensando na nossa necessidade de estabelecer fronteiras e regras.
Será que existe um outro jeito? Um jeito de burlar nossas próprias limitações, e as do mundo e das pessoas, nossos fantasmas, um jeito de enganar a nós mesmos naquilo que não conseguimos resolver?
domingo, 14 de outubro de 2007
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Cyborging
Para mim, o computador é como se fosse de fato uma extensão, muito significante, de mim mesma. Parte imprescindível da minha existência, do meu dia-a-dia. Eu mal abro os olhos de manhã e já vou apertando o botão que me liga ao mundo. Enquanto tomo café, abro o programa que recebe meus emails, curiosa para ver se baixa alguma novidade importante. Se alguém respondeu, se alguém escreveu, ligo o msn, vejo quem tá online. Quem ainda não acordou, ou não tá em casa, opa, fulano acabou de chegar no trabalho. Confiro as principais notícias. O jornal televisivo tá sempre atrasado pra mim.
Passo o dia todo trabalhando nele... imagina, ele concentra todo o meu trabalho dos últimos... hum... cinco, seis anos? Várias pastinhas com arquivos de texto. Algumas nem sei "onde" guardei. É mesmo um saco fazer backup.
Mas, bem, morando longe, o computador me conecta a muita gente. Amigas queridas, de hoje, ontem e de muito tempo. Voltei a saber da vida e dos amores da minha melhor amiga de infância, com quem eu já não falava frequentemente porque a vida te leva pra outros lados.
Falo mais com a minha mãe pelo msn do que falava pessoalmente ou pelo telefone quando morávamos na mesma cidade. Falo com as minhas tias, com a minha prima que está no meio de um navio no pacífico, até com a minha avó de 87 anos. Claro, quando a colocam na frente da webcam porque aí também já era pedir demais.
Fico vendo esse pessoal que já nasce com celular na mão e aprende a digitar antes de escrever à mão... não sou saudosista, não vou dizer que acho horrível: eu realmente não sei o que seria da minha vida, hoje, sem a internet.
Na real, quando penso na minha infância pelos anos 80, eu me lembro de achar um absurdo não existirem algumas coisas, como, por exemplo, o que depois se convencionou chamar telefone celular. Achava um problemão ter que esperar uma pessoa e não ter como avisá-la de alguma coisa urgente porque ela já tinha saído de casa... Ah! se eu tivesse ligado segundos antes!
Eu pressentia a necessidade de uma ferramenta de busca... um oráculo que respondesse o que se sabe sobre qualquer coisa. Eu devia ter uns oito, nove anos, estava voltando pra casa com o ônibus da escola e me lembro de a engrenagem do portão eletrônico de um prédio de apartamentos ter me intrigado profundamente. Como funcionaria esse treco? pensei... Eu me lembro perfeitamente de pensar - deveria haver uma matéria na escola chamada "conhecimentos gerais". Queria poder chegar lá amanhã bem cedo, com as minhas fivelinhas e relógio colorido, que trocava pulseira, aro, caixa, tudo, e perguntar pra professora (geralmente era professora): professora, hoje eu quero saber como funcionam os portões eletrônicos!
Pensa! Coitada da professora! Na verdade, até hoje não sei como funcionam os portões eletrônicos. O lance é que o que eu queria mesmo era o google, a wikipedia, algo do tipo.
Sim, eu nasci pronta pra internet e pro computador.
Até confesso que guardo comigo uma pontinha de orgulho por saber que eu existi enquanto eles ainda não existiam, ou, que eu testemunhei os dois mundos. Uma risadinha... como se eu compartilhasse de um segredo do qual cada vez menos pessoas saberão.... Risadinha nervosa, porque é evidente que o acesso à informação, à comunicação, à tecnologia, está longe de ser igual para todos. Como o mundo, que é desigual, injusto, cruel, etc etc. Enfim, ainda há muitas pessoas vivendo sem computador, sem internet, sem celular. Por uma série de motivos. Inclusive, talvez, porque queiram.
Bem, tudo isso pra dizer que achei uma coisa hoje na internet que eu já "esperava", como ao celular e às ferramentas de busca. Minha primeira pesquisa foi quase toda no papel. Tenho pastas, textos, anotações com canetas coloridas. Meus trabalhos de graduação foram quase todos feitos à mão. Dos que digitei e imprimi, não guardei cópia digital.
Aos poucos, como na vida, na pesquisa, eu fui sendo fagocitada pelos recursos digitais. Muito mais fácil e rápido jogar o artigo ou o autor, ou o tema, no google scholar e baixar o pdf do jstor do que fazer uma escavação arqueológica das pastas de papéis.
Mas ainda era meio complicado pra anotar coisas... organizar, guardar, coisas que quero ler depois, que não deu tempo de terminar, livros que um dia eu vou querer comprar... enfim.
A promessa é tentadora, a ver se vai funcionar. Para usuários do Firefox:
http://www.zotero.org
terça-feira, 9 de outubro de 2007
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
O prédio que canta
Quando me mudei, ela ia do segundo para o terceiro andar.
Fui acompanhando, ao longo dos meses, o céu ser engolido por uma parede vermelha. E vendo pessoas que de vez em quando espreitam pelas janelas inacabadas com seus uniformes verde-bandeira.
Em breve o vermelho tijolo vai virar alguma combinação "étnica" de pequenas lajotas (preto, amarelo, branco, que cores serão?). E as janelas passarão a ser povoadas por outras pessoas, de roupas coloridas.
A cada andar que subia, eu ficava mais chateada com a construção... com esse assalto gradual do sol, da vista, do espaço. Espaço que era ar e que me foi roubado sem eu pedir, para se transformar em lugar de alguém, pessoas circulando, falando, vivendo.
Mas o que mais me intimidava era "ver" o passar do tempo, os dias semanas meses concretizando-se violentamente cada vez que eu tirava os olhos da tela do computador em busca de alguma coisa outra que não LCD ou letrinhas pretas no papel.
Pressentindo minha agonia, numa bela quinta feira à tarde, o prédio resolveu começar a cantar...
Parei tudo e fui à janela. De onde vinha aquele canto? Nada que se pudesse ver... os transeuntes também passavam, incrédulos. O prédio! Cantando!
As mãos que me roubavam dia a dia a vista nesta tarde se transformavam em vozes que me encantavam os ouvidos. E tem sido assim toda quinta feira desde então. Às quatro e meia da tarde, dos seus porões, o meu vizinho em construção me presenteia com uma serenata.
NYC
domingo, 30 de setembro de 2007
Praia
E agora minha pele está mais escura, meu cabelo mais claro, meus olhos mais pesados de um sono gostoso e meu coração, um pouco mais leve.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
terça-feira, 25 de setembro de 2007
A estrada e a vida
A longa estrada da vida, as pedras no caminho, os desvios, os acidentes, o ponto de partida, as paragens, caronas... um destino?
Nessa semana uma estrada entrou no meu caminho.
Sempre gostei de viajar, de dirigir. De desafios.
Mas esta estrada já havia levado um amigo muito querido, que faz uma falta tremenda, e os sonhos e a felicidade da sua companheira, minha também muito querida amiga.
E me pegou num momento desfavorável... Eu ando meio desconfiada de mim mesma.
Claro que eu tinha opções. E elas me torturaram um bom tempo.
Mas no final das contas resolvi botar mesmo o pé na estrada.
By myself. Porque era também a minha vida.
E foi lindo, lindo, lindo.
O céu brigando com o mar para ver quem é mais azul.
Sombras de pássaros voando a cortar o asfalto, pequenas cabanas e bandeiras vermelhas.
Uma boa trilha sonora, um pouco de esperança. Velocidade.
E por algumas horas tudo pareceu tão simples.
domingo, 23 de setembro de 2007
Aos poucos
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Inverno
Hã? Então aqui é o quê se não praia?
Descobri que praia urbana não tem muita graça. É coisa pra turista e, claro, pra grande maioria da população que trabalha ou que não tem grana pra viajar pros paraísos dos arredores.
Mas, fato é que a cidade no carnaval (aquele do calendário) fica absolutamente perfeita - pro meu gosto. Não gosto de muvuca nem de brincadeira besta. A cidade fica deserta... dá pra andar no meio da rua, sabe como é? Nem a padaria abre. Fantástico.
Mas um calor do cão. Sol de doer. Foi minha primeira impressão, forte. Do calor e do sol dessa terra. Que cansa... amolece o corpo... claro, o meu, desacostumado.
Bem, meu medo era de que fosse sempre assim. O ano todo, aquele calor.
Pra curtir, na praia, tudo bem... mas pra viver... trabalhar...
Enfim, o tempo foi passando... e eu fui descobrindo... que aqui existe inverno!
Descoberta deliciosa, poder dormir com a janela fechada e no escurinho... de vez em quando até com uma coberta... Não viver com o ventilador na cara...
Tá certo que chove muito. As primeiras chuvas foram convincentes. Não é pouca água não. E quando ela dá de cair rápido, a gente pensa se não precisa na verdade é de um barquinho.
Mas é bonito. Tudo pára, todo mundo espera um pouco... e ela passa... é só água.
Quando o inverno dá pra ser gentil, fica fresco e não chove.
O sol, tá mais pra lá do que pra cá. Dá um tempo também com aquela luz toda...
Venta bastante, ainda mais do que normalmente. A praia não fica tão irresistível.
O inverno foi um tempo bom. Foi uma boa descoberta...
Agora se aproxima o equinócio e o sol começa a bater na minha janela pela manhã.
Sempre gostei da primavera.
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
O meu nome
E aqui estou, algumas idéias na cabeça... frente a frente comigo mesma e com o documento de texto
Mas fui jogada e me joguei numa solidão quase monástica... e tento me esconder dela o tempo todo...
Meu nome é parte de mim. Parte que sou obrigada a aceitar como continuidade. A memória desse eu à qual as pessoas recorrem quando pensam em mim e falam comigo. Mas eu sou hoje. E eu não necessariamente sou o tempo todo. Ou, não quero ser. Nem quero um pseudônimo. Porque exigiria um exercício de identificação que já me cansa fazer com o meu próprio nome, e já me custa caro. Que fique esse mesmo, curto, ambíguo e comum. Quem sabe ele não se dissolve entre tantos outros, como sempre aconteceu.
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Para Maria Bonita
que venho visitar em um outro tempo
por ter acreditado que a aventura da guerra era o seu caminho
por ter amado e morrido com seu amor
por todos seus partos e abortos
pela concretude do que um dia foi o seu rosto
dissecado, como se pudesse contar o porquê
estudado, mumificado, disputado, exposto
finalmente sepultado?
pelo que sua memória inspira
ainda que quase sempre coadjuvante
mas o que fazer, ela não estava sozinha
não quis estar... e será que precisava?
Maria Déia, rebatizada Maria Bonita
Nessa foto que imortaliza um instante
E suas pretensões
Doçura, ordem (!), paixão, companhia
O que terá Maria Bonita feito por Lampião e pelo cangaço? E por si mesma?
O que farão, ela e sua terra, por mim? E eu, por elas?